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PBP – Relato do Leandro da Rocha

Postado em 12 outubro 2011 por awulll

Relato Paris-Brest-Paris 2011 (PBP) – por Leandro da Rocha.


Local da largada – PBP 2011

Minha aventura rumo ao PBP 2011, começou no dia 27/02/11, quando comprei minha 1 ª bicicleta depois de uma infância cheia de pedal. Três treinos totalizando 150km e primeira prova não oficial, o desafio 100km em Curitiba, no mesmo dia que os Audaciosos daqui largavam para o Audax 400km. Depois disso em uma seqüência de Audax incríveis (praticamente fazendo um por semana) eu consegui a habilitação para poder participar do maior e mais antigo Audax do mundo.

Saí de Curitiba junto com meu amigo Stefan no dia 17/08 rumo ao Galeão no Rio de Janeiro, onde faríamos a conexão Brasil-Europa (Madrid). Lá nos reunimos como Rodyer (também de Curitiba) e mais tarde com o pessoal de Florianópolis (Jorge, Della, Pereira e o Evandro).

Quase 15 horas de viagens e estávamos em solo Francês, onde fomos recebidos pelo Dudu, que já esperava pelos meninos de Floripa e no qual eu e o Stefan nos juntamos a ele.

Bikes no carro, que parecia uma lata de sardinha de cheio que estava, seguimos rumo a Le Gatines, hotel em que muitos brasileiros escolheram para ficar antes da prova. Neste local, mais tarde, encontraríamos ainda o Richard, o Calvete, Silas, Rafael Dias, Cesar e sua reclinada e mais alguns brasileiros que realmente eu não lembro os nomes, peço desculpas por isso.

Neste hotel também estavam um pessoal do Canadá, da Região de Columbia. O Peter era um deles e lembro bastante dele , pois nos ajudou bastante com o Francês nos dias que antecederam a largada do PBP.



Hotel Le Gatines - França

Enfim chega o dia da largada e eu, Stefan e o Carlos (Gaúcho) estávamos programados para largar às 21:00 horas, mas fomos mais cedo para tentar largar mais cedo, junto com a maioria dos brasileiros. Conseguimos largar às 19:00 horas junto com o pessoal de Floripa. No início a tática era dispersar rápido do pelotão para evitarmos possíveis quedas ocasionadas pelos outros ciclistas. Era muita gente, ao todo quase 6000 e na nossa largada aproximadamente 600.

Brasileiros na vistoria PBP 2011

Em alguns minutos eu já estava lá na frente com os ponteiros, mas sabia que não ia acompanhá-los por muito tempo. Eu estava carregando uma mochila pesada e eles tinham carros de apoio. Nas subidas a minha mochila pesava muito, e isso estava me desgastando demais. Resolvi sair desse pelotão e esperar o próximo, na esperança que eles pedalassem em um ritmo um pouco menor, afinal eu tinha mais de 100km para pedalar.

Brasileiros no Hotel Le Gatines – horas antes da largada do PBP 2011

Fiquei andando sozinho por quase 2 horas, até que um pelotão imenso me engoliu, pareceria uma fuga sendo neutralizada!!! Foi bem legal, isso ocorreu várias vezes durante o PBP, às vezes eu estava no pelotão e às vezes era o cara da fuga!!! Nesse pelotão estava o Jorge, um boludo muito gente boa que morava em Floripa e pedalava com a camisa do Brasil. Pedalamos na ponta deste pelotão por muitos km’s.

Após 170km de pedal paramos em um restaurante para comermos alguma coisa, foi um sanduíche grego, igual aqueles que vende no centro de São Paulo, estava uma delícia. Alguns km’s a frente eu encontrei o Stefan parado tomando água. Ele havia me passado na minha parada para o lanche. A essa altura eu estava sofrendo de câimbras, devido ao inicio forte de prova. Tomei um Sedilax que o Stefan tinha e confesso que ali temi pelo resto da prova mas esse remédio é santo, não só deu jeito nas câimbras como não senti dor em mais nada pelo resto da prova. Andamos juntos até o 2º PC, onde um pouco antes eu havia escapado dele e mais à frente eu havia parado para comer. Vi ele passando mas não consegui alcançá-lo.

A partir do 2º dia de prova choveu bastante e dificultava um pouco nossa evolução. No 5º Pc eu cheguei antes do Stefan que nessa altura já estava pedalando junto ao Gaúcho. Me juntei a eles e fomos junto até ao 7º PC. Neste local tomamos banho e dormimos. Um fato curioso aconteceu, pois o Gaúcho nos acordou 30 minutos antes do combinado, dizendo que tínhamos dormido de mais, quase 3 horas a mais. Com medo de perdemos os horários dos pc’s, eu eo Stefan decidimos partir imediatamente, mas na verdade estávamos adiantados cerca de 1 hora em relação ao planejado. A essa altura já tínhamos pedalados mais de 400km. O gaúcho percebeu que tinha errado o horário e voltou a dormir sem falar com a gente e com isso ficamos procurando por ele por quase 1 hora e nada. Decidimos partir sem ele. Logo no começo passam por nós 3 ciclistas. um norueguês e dois asiáticos. Eu fui atrás e meu amigo Stefan ficou, em menos de 2 horas com ritmo forte, de madruga e sob forte chuva eu passei direto pelo PC 6, que não precisava carimbar o passaporte e segui rumo a Brest.

Eu imaginava que seria fácil chegar até lá ,mas temia pela volta, já que ia descer a serra e depois tinha que subi-la de volta com quase 700km nas costas. Na pratica foi tudo ao contrário, a descida foi muito difícil, chuva e vento contra, fazia com que tínhamos que pedalar na descida para a bicicleta não parar. Mas cheguei firme em Brest com um pessoal das Filipinas. Eu não entendia nada o que eles falavam. Em Brest, banheiro comida e dormir por 4 horas, 3 horas a mais que eu havia planejado. Saí a toda atrás de um senhor Italiano, o velhinho pedalava demais. Fui com ele por uns 20 km com média superior aos 35km/h. Ele parou para ir a um banheiro. Eu me sentia bem e decidi continuar. Andava forte, até que eu encontrei um grupo de 10 espanhóis e me juntei a eles. Acho que foi um dos grupos mais legais que pedalei. Quando eles perceberam que eu era brasileiro começamos uma discussão daquelas para ver quem tinha a melhor seleção de futebol. E quando eu disse a eles que a Espanha , hoje, era melhor que a seleção canarinho, eles ficaram loucos. Me diziam que eu não podia entregar os pontos assim tão facilmente. Mas eu sempre lembrava a eles, nos somos penta e vocês estão apenas debutando. Fomos nesse embate por uns 70 km. Quando percebi já tinha subido a serra de Brest e estava passando por uma cidadezinha bem típica alemã, eu acho que ela foi colonizada pelos Germânios.

Ponte Suspensa em Brest – França, um visual desses compensa tudo!

A partir desse ponto minha maior dificuldade era o sono. Não importava o quanto eu dormia que eu sempre estava com sono. Eu dormi ao todo 18 horas, muito para quem tinha planejado fazer os 1230km dormindo apenas 6 horas. Meu pedal tinha que render e graças a deus rendeu. Em alguns momentos eu quase caía de sono mas usei algumas táticas. Sempre que encontrava uma barraca armada pelos moradores franceses, onde eles serviam comidas e bebidas de graças eu sempre parava e tomava muito café bem doce. E sempre que achava um mercado eu comprava pelo menos 3 Red Bull’s, para me manter acordado. Fui bem até quando faltava uns 10 km ao ultimo PC, Dreux. Nesse ponto eu estava pedalando junto ao pessoal da Inglaterra e cruzei sem perceber uma estrada na madrugada. Só vi, porque eles pararam. Graças a Deus não aconteceu nada mas foi bem perigoso.

Pedalando pelo PBP 2011

Em Dreux, comi muito e dormi minhas 2 ultimas horas, acordei e segui rumo a Paris. Faltava pouco e me sentia bem. Quando faltavam 20 km, parei em uma ponte para comer uma metade de baguete que havia sobrado, do último PC. O pessoal passava e gritava me apoiando para eu não desistir. A 8 km da chegada tínhamos 2 subidas bem fortes. O pessoal desceu da bike e subiu empurrando. Eu fui pedalando, judiando bastante da bike. Quando faltava uns 800 m, meu pneu furou pela primeira vez, Era um furo pequeno e decidi não parar. Depois de 87h e 50 minutos, concluí o que foi minha maior aventura sobre pedal. Entreguei o passaporte, tomei uma coca e fui consertar o pneu da bike, afinal tinha que voltar pedalando 10km até o hotel. Nessa brincadeira eu dormi 3 horas sentado na arquibancada.

O Paris Brest Paris 2011, foi uma experiência incrível que me fez gostar ainda mais do ciclismo de longa distancia. Pedalar na França me fez abrir novos horizontes e novas metas. Para a temporada 2012, a meta é baixar todos os meus tempos nos Brevets 200, 300, 400 e 600 km, fazer o Rocky Moutains no Canada em junho e o 1001 Miglia na Itália em Agosto, alem disso fazer um Fleche e o 1000km de Porto Alegre e assim me tornar o Randonneur 5000km.

Obrigado a todos que me apoiaram nesta jornada e também ao pessoal que duvidou que eu conseguiria devido ao pouco tempo de pedal.

Chegada em Paris com meus amigos Cezar e Walter

Um abraço a todos.

1 Comentários para este Post

  1. Rodyer Cruz Says:

    Grande Feito Leandro!! Principalmente você que começou a pedalar em 2011!! Nós vemos nos Audaxes da vida!!

1 Trackbacks For This Post

  1. PBP, eu fui! Leandro da Rocha | Do Atlântico ao Pacífico Disse:

    [...] Relato sobre o PBP 2011: http://doatlanticoaopacifico.com/archives/2582 [...]

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