Nome?
Darley Cardoso.
Natural de?
Minas Gerais.
Qual e como foi seu primeiro BRM pedalado?
BRM Cristal 200km, em novembro de 2014.
Na adolescência comecei a viajar de bike por estradas no interior de MG. Isso foi perdido com as atribuições da vida adulta e com os treinos específicos. Mas em 2014 eu conheci alguns Ranndonneurs e a série Audax, ao mesmo tempo que eu estava começando treinos preparatórios para uma ultramaratona (stage race). Então eu comecei a procurar provas de endurance, e a série Audax veio sob medida e ainda resgatou aquele sentimento dos pedais bucólicos.
Qual e como foi o BRM mais marcante para você?
O BRM Cristal 400km foi uma prova de muita superação física e mental pra mim. Após 300km de pedal em uma estrada/acostamento muito quente e sujo que gastou todos os meus remendos e câmaras reservas, o pneu traseiro começou a esfarelar e pra piorar o tempo estava virando e uma tempestade começava a aparecer no horizonte, ao escurecer a chuva chegou forte na parte com as maiores subidas, minhas lanternas começaram a dar problemas e o pneu todo encharcado e rasgando, foi muito difícil chegar no P.A. seguinte, onde consegui câmaras e lanternas reservas com um participante que acabará de desistir devido ao frio e a intensidade da chuva, por sorte, além de conseguir um caldo feito as pressas pelo dono do restaurante na estrada (que já havia fecha), também encontrei mais 2 randonneurs e pedalamos juntos até o final, eu escoltado por eles pedalando sobre a faixa branca da rodovia, trocando as câmaras e lanternas, cortando o vento e a chuva noite a fora.
Qual(is) PBP participou?
18º Paris Brest Paris (2015)
Como foi(ram) sua(s) participação(ões)?
Por um lado foi muito bom, pois fomos os primeiros brasileiros a participar da prova de tandem e isso trouxe um aprendizado, experiências e contatos que não seriam possíveis em outra ocasião, ou de outra forma. Mas também teve a parte ruim, paramos com 74h de prova e 1034km percorridos, com danos físicos e a dor de ter que sair de Villaines de ônibus. Fiquei mal por algumas semanas e carrego essas lembranças.
O que significa o PBP para você?
Uma miscelânea de experiências e sentimentos em relação ao cicloturismo, contatos incríveis com ciclistas de todo o mundo, a experiência de pedalar no território francês e receber o respeito e o carinho dos seus habitantes, além de enfrentar limites físicos e psicológicos. Enfim, um grande aprendizado e a oportunidade de vivenciar o verdadeiro espírito Randonneur.
O que você listaria como erros e acertos de sua(s) participação(ões)?
Erros:
- Subestimar a prova;
- Erro de estratégia e logística para a prova;
- Faltou clareza de objetivos e metas;
- Erro de configuração do tipo de fit e distribuição de peso;
- Criar dificuldades e problemas além dos que a prova ofereceria;
- Influência de terceiros que não estavam conectados a nossa realidade de prova;
- Faltou “Chá de Selim” simulando as condições e ritmo de prova.
Acertos:
- Escolha do equipamento e acessórios;
- Adaptação às condições de prova;
- Sincronismo e sintonia;
- Treinos específicos (apesar de ter faltado horas de treino), foram muito importantes para chegarmos até onde foi possível;
- Apoio de boas pessoas e empresas.
Que dicas daria a randonneurs que farão seu primeiro PBP?
Sugiro que faça algumas vezes o BRM 1000km e o Brevet permanente de 600km, se possível alternando estados/regiões para ser testado em condições climáticas e de relevo diferentes, e tentar sempre otimizar o seu tempo nos brevets.
Cuidado com o canto da sereia, não deixe Paris te seduzir antes da prova.
E não desista, se você conseguiu se tornar um super randonneur, você é capaz de terminar a prova. Continue pedalando até o final, saiba que a dor da desistência será muito maior do que a fadiga muscular ou mental que você estará sentindo.
Relato sobre o PBP 2015: Não fiz um relato específico sobre o PBP 2015, apenas do choque de realidade e da inversão de valores que foi chegar na França para a prova e retornar ao Brasil: http://tripedal.net/heroi-bandido/