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BRM 600 Japão – Relato de Rosemburg Lopes Junior

Postado em 04 fevereiro 2014 por awulll

Vamos tentar, não sou muito bom em escrever o que aconteceu, mas vamos lá…
Quando voltei das minhas férias na Itália em junho, voltei com o firme propósito de me tornar Super Randonneur pela primeira vez desde que iniciei minhas participações em BRMs em 2007. Já havia completado os dois BRM 200 do Randonneus Lapa no começo do ano e já tinha minha inscrição feita para o BRM 300 de Floripa em julho. Porém ao regressar ao Brasil, recebi uma ligação da minha diretora me propondo um trabalho de 6 meses no Japão.
Abortar o plano SR 2013? Não aceitar o desafio profissional? O que fazer?
Imediatamente acessei a Internet e com a ajuda do Google encontrei o site Randonneurs Japan (tudo em Japonês)…. com a ajuda do Google translate consegui traduzir o calendário e descobri que ainda haveriam 2 BRM 600 no Japão após minha chegada: primeira opção 21 e 22 de setembro (muito próximo da minha aterrissagem na terra do sol nascente), outra opção no começo de outubro, porém frio e com mais de 6000 de altimetria. De qualquer forma, escrevi um e-mail em inglês pedindo mais informações e fiquei no aguardo.
Aceitei a proposta de trabalho e comecei todo o procedimento burocrático para a viagem e, enquanto isso aguardava ansioso uma resposta do Randonneurs Japão. Duas semanas depois, sem nenhuma resposta, resolvi apelar para minha “network” internacional e enviei um e-mail para o Jean Gualbert (ACP) pedindo ajuda. No mesmo dia ele me enviou um e-mail com cópia para o seu representante no Japão que em seguida entrou em contato comigo e disse que assim que eu chegasse no Japão me ajudaria a concretizar meus planos.
Enquanto isso no Brasil ainda tinha de fazer o BRM 400 de Floripa e, na empolgação de tudo que estava acontecendo na minha vida, o BRM 400 de Floripa foi apenas um passeio ladeado pelos amigos Padilha, Marcão e Perinazzo. Nos demos ao luxo até de errar o caminho e aumentar o percurso em uns 20 km…. sucesso em mais uma prova.
Chegando ao Japão em 1º de setembro, a primeira coisa a fazer era comprar uma bicicleta e entrar em contato com o representante da ACP. No dia 3 de setembro comprei uma Giant Escape Air (híbrida de alumínio, 9,9 kg), equipei a bichinha e comecei a treinar. Fiz contato com o representante da ACP que aceitou vir ao meu apartamento, trouxe todo o material traduzido dos dois BRM 600 que haveriam e optei pelo primeiro (21/22 de setembro). Ele me orientou em que trem pegar para chegar ao norte do Japão, hotéis na cidade da largada/chegada e um hotel intermediário para a noite de 21 para 22. Como eu não tinha ideia de como seria minha performance, resolvi arriscar e não marquei hotel para a noite intermediária, o que me traria problemas depois.
Dia 20/9 (Sexta feira) trabalhei até as 16 horas, peguei o trem e fui pra casa buscar minhas coisas que eu já havia deixado organizadas na noite anterior. Peguei tudo e tomei outro trem até a estação onde pegaria o trem bala. Embarquei rumo ao desconhecido às 18 horas e, chegando em Hachinohe (Norte do Japão) às 20:30 horas, sem saber pra que lado ir para achar o hotel, vi um ciclista com o mala bike e fui até ele, claro que não falava Inglês, mas mostrei um papel pra ele com o mapa e nome do hotel e ele me levou até a saída certa da estação. Caminhei duas quadras e já estava no hotel. Liguei para o celular do organizador, é lógico que ele também não falava Inglês, mas passou o telefone para um outro que falava Inglês e que me disse para encontrá-los na frente do hotel às 6:30 da manhã que eles iriam pedalar até a largada e assim fiz.
Tomei banho, jantei e já foi dormir com parte das roupas que usaria no dia seguinte. Encontrei a galera na frente do hotel e o “tradutor” veio junto para ajudar. Lá ele me mostrou um ciclista que sabia falar Inglês e disse que eu poderia acompahá-lo. Saimos em comboi do hotel, ciclistas que estavam em outros hoteis também se reuniram e fomos todos juntos até a largada (uns 7 km do hotel)… nesse meio tempo eu notei que o ciclista que me foi indicado como possível companheiro tinha uma identificação de SR permanente na bike, isso me deu um pouco de receio de não conseguir acompanhar o ritmo mas, ainda não sabia o que fazer.
Fomos para o “brieffing” e o tradutor ao lado me explicando tudo que era falado. Lá eu descobri que fora os PCs, havia dois pontos de quiz onde, eu deveria identificar um determinado monumento no caminho e ler a informação que estaria numa placa ao lado… caraca, como eu vou fazer isso se não sei ler japonês??? O tradutor conversou com o organizador e eles me orientaram a chegar no local e bater uma foto da placa junto da minha bike e enviar as fotos para a organização.
Por falar em organização, nada de apoio nas estradas (cada ciclista deve ser auto-suficiente), ninguém nos PCs (tudo virtual – compra e prova com a NF), na largada o ciclista já ganhava o passaporte e um envelope endereçado para mandar o passaporte e as NFs para homologação.
Ok, vamos à prova. Largamos e eu ainda na tensão, tentando entender como funcionava o meu recém comprado Garmin Edge 810 com a rota que o Padilha me ajudou a criar baseado na rota dos Japas. Na primeira parte grudei na roda de uma japonesinha que falava Inglês e pensei em seguir com ela por receio de não conseguir acompanhar o outro ciclista que era SR permanente e Randonneur 5000. O problema é que ela era muito lenta e o tempo todo me avisava que não sabia se concluiria. Resolvemos parar numa loja de conveniência no km 65 para comer alguma coisa e lá haviam muitos ciclistas, inclusive o R5K ainda estava lá. Foi aí que tomei uma decisão, vou tentar acompanhá-lo, se não conseguir, espero os demais que estão vindo atrás. E assim foi, o ritmo era bem mais forte do que o da ciclista que eu estava acompanhando antes, mas não impossível de acompanhar e assim fomos quilômetro após quilômetro desvendando as lindas paisagens do norte do Japão, PC1, Quiz 1, PC2, Quiz 2 e as primeiras montanhas. Quando chegamos na primeira montanha, que era uma elevação de 600 m em relação ao nível do mar onde estávamos eu pensei que o SR permanente iria disparar na minha frente mas, para minha surpresa ele disse, “odeio subidas, vou devagar, pode ir no teu ritmo”…. achei que ele estava brincando, mas não, subi na frente dele e o esperei lá no alto da montanha. Depois dali socamos a bota até o PC3 que era perto da cidade que eu havia sido orientado a marcar hotel e não o fiz. Era quase meia noite e o japa me disse que dormiria lá e que recomeçaria às 6 da manhã (ele tinha reserva de hotel e a esposa estava lá o esperando). Chegamos em Aomori umas 00:45, ele foi pro hotel e eu fui tentar achar um hotel para mim, sem sucesso, tudo lotado por ser ultimo final de semana do verão Japonês e a cidade ser uma famosa cidade litorânea do norte do Japão.
Como diria a famosa dupla de cantores sertanejos, “Dormi na Praça”, na verdade fui no fundo do estacionamento do hotel onde meu companheiro de pedal estava hospedado e me encostei na parede atrás dos carros e tentei descansar. Lá por umas 4 da manhã entrei na recepção do hotel e sentei num sofá e fiquei ali descansando até às 6 da manhã, em ponto quando saímos para os últimos 270 km de pedal.
Quando começamos a pedalar na luz do sol do dia seguinte, parecia que eu estava renovado, que não havia pedalado quase 340 km no dia anterior e mal dormido à noite. Acho que eu estava “dopado” pela beleza do lugar. E assim fomos vencendo os quilômetros e sabendo que ao final da prova viriam as montanhas mais duras, cruzando o Japão de Oeste para Leste até voltar em Hachinohe. Sim, os últimos 70 km de prova reservavam as 3 montanhas mais altas da prova. Socamos a bota para tentar cruzá-las ainda na luz do dia, mas conseguimos transpor apenas a maior delas na luz do dia e, ao final da descida da primeira montanha, um presente de Deus, o pôr do sol nos lagos entre as montanhas, uma imagem que me deu toda energia que eu precisava para superar as outras duas montanhas no escuro da noite. E assim foi, duas subidas radicais nos últimos quilômetros de prova, mas que foram vencidas com sucesso e como na primeira montanha, eu sempre esperava o Japa no alto de todas elas, aí na descida e na reta o cara ficava alucinado e foi esta alucinação dele que nos fez fazer os últimos 30 km de prova após as montanhas com o pé embaixo, um sprint final alucinado de 30 km pra Bike Speed nenhum bater a média, aquilo foi muito louco, mas conseguimos concluir a prova 3 horas antes do tempo limite e com a adrenalina vazando pelos poros…. sensacional.
Assim foi a maneira que eu consegui meu primeiro Super Randonneur….. realizado.

2 Comentários para este Post

  1. Fábio Says:

    Parabéns! Fantástico o depoimento.

  2. Burg Says:

    Valeu Fábio!

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