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Pedal por Minas Gerais

Postado em 20 dezembro 2012 por Pablo Di Giovanni

Bom Pessoal, é o meu primeiro post aqui, e é uma honra poder compartilhar uma das minhas pedaladas com vocês!
Esta foi, digamos, a minha primeira viagem que posso denominar de cicloturismo mesmo, pois costumo fazer pedais de 200-250 km por dia, alcançar um destino e voltar de ônibus, mas desta vez foram 4 dias na estrada, conhecendo várias cidades diferentes, várias culturas, variação de paisagens constante, etc.

Embora foi um ‘circuito’ e não uma viagem em linha reta, já posso dizer que foi cicloturismo pois o estilo de pedal se torna totalmente diferente a um pedal A-B de um dia só… porque? Pra começar o ritmo de pedal é mais leve, não nos matamos pra tentar fazer o menor tempo, pelo contrário, vamos curtindo cada pedacinho, cada visual, cada cheiro, cada povoado, interagimos com muitas pessoas, aprendemos muitas coisas, e principalmente, aproveitamos o melhor do termo “Viagem” pois o fazemos de bicicleta!

A viagem começou na cidade de Juiz de Fora, a qual eu já conhecia de pedais longos (Rio x Juiz de Fora – 200km), mas desta vez eu iria sair um pouco das estradas principais, do barulho constante de carretas a alta velocidade, do risco de atropelamento, etc… e iriamos pegar estradas de terra, sim, terra! Em Minas Gerais, berço das Estradas Reais, é possível chegar a qualquer lugar por terra, a região é vasta em fazendas e rica em história. Desta forma, este pedal seria mais do que diferente, pois estaria em contato com a natureza de uma forma completa, evitaria o transito intenso, o calor extremo acumulado pelo asfalto, etc… Exige um nível de concentração maior, pois o terreno é irregular e qualquer bobeira é tombo!

Peguei um ônibus na rodoviária do Rio de Janeiro às 23h, e chegaria em Juiz de Fora às 2h, lá teria dois grandes amigos cicloturistas me esperando, Daniel Carraci (morador de Juiz de fora e conhecedor de região) e Ronaldo (Também do RJ), chegando lá, a chuva parecia não sessar, esperamos até umas 4h e resolvemos enfrentar a garoa mesmo assim, para nossa alegria se tornou uma chuva muito fraca que quase não molhava, então fizemos 60km de astalto pela BR 267 até a cidade de Lima Duarte, a qual chegamos nos primeiros raios de sol.

Esta cidade é famosa pois abrange a região de Serras de Ibitpoca, região conhecidíssima pela beleza natural, mais precisamente pelo Parque Nacional de Ibitipoca, onde há cachoeiras de água vermelha, montanhas de areia numa altitude de 1700m, canyons, etc.  Neste primeiro dia, iriamos até a vila de Conceição de Ibitpoca, provaríamos o famoso pão com canela da região, e continuaríamos até a cidadezinha de Santana de Garambéu…

Pedalar por estras estradas simplesmente não tem preço, nos faz sentir vivos,  a paisagem consiste em uma mistura de ‘mar de morros’  com grandes alamedas de eucalipto, um céu tipico de Minas Gerais, cores de todos os tipos, etc. O ar que se respira é o mais puro de todos, o cheiro do mato é único. O dia começou nublado, mas o tempo foi abrindo quando atingimos a região mais alta da viagem, a 1200 m de altitude. As subidas são crueis, basicamente a gente só usa a coroa pequena e o pinhão grande, pois se sobe muito e nas descidas não se pedala, então vem subida novamente! Descer nesta região é simplesmente mágico!  Neste dia paramos em Santana de Garambéu, perto das 18h quando começou chover bem forte, por nossa sorte pegamos muito pouco desta chuva, dormimos num hotelzinho onde eramos os únicos hospedes, a hospedagem era muito limpa e o preço apenas R$ 25 com café da manhã. A janta simplesmente deliciosa! como toda comida mineira, claro!

No segundo dia, nosso destino seria a famosa cidade São João del Rey, onde encontraríamos o caminho velho da Estrada Real, pra isto, saímos de Santana de Garambéu em direção a Piedade do Rio grande, nesta cidade, seriam 52km até São João del Rey sem NADA no caminho, 52 km por terra é muita coisa! Pra nossa sorte este pedaço foi praticamente sem subidas então foi bem rápido. A parte mais bonita foi a região de Monte grande, onde tínhamos uma visão incrível de quem realmente está pedalando pelo topo dos morros , falando em morros… é engraçado da forma que os mineiros de entendem nas suas estradas vicinais, os pontos de referência são os morros! Por exemplo… tem que virar a direita no terceiro morro daqui pra lá, ai não tem erro! rsrs. Chegamos em São João del Rey ainda cedo, porém uma grande tormenta se aproximava, já que tínhamos um amigo nesta cidade, resolvemos ficar e conhecer o centro histórico a noite. Achamos uma pousada perto da rodoviária (aqui se encontram as mais em conta) por R$ 40 a noite com banheiro privativo e café da manhã. A noite saímos rodar pelo centro histórico… simplesmente espetacular! Me senti voltando no tempo! Nosso amigo Wagner (morador local) nos deus várias dicas sobre a cidade e combinou em nos mostrar um novo caminho (bem inusitado) para chegar na cidade de Tiradentes no próximo dia.

No terceiro dia, pretendíamos conhecer Tiradentes e ir por terra até Correia de Almeida, porém o atalho que Wagner  nos levara, seria um tanto ‘lento’ pois tratava-se de um single-track seguindo os trilhos do trem histórico que faz o percurso São João del Rey x Tiradentes, uma locomotiva Maria Fumaça! Então devido a chuva do dia anterior tinha muita lama, pedras dos trilhos e várias pontezinhas onde eramos obrigados a desmontar de bike… Finalmente chegando em Tiradentes fomos conhecer a cidade, realmente um charme! Cidade história mais bem conservada que já vi! É um paraíso turístico, o visual da serra de São José no fundo é de tirar o folego! Após várias fotos, resolvemos seguir por outra estrada sugerida por Wagner, a qual seria por onde o trem passava antigamente, uma estrada de terra com os trilhos retirados, ou seja… só reta! Nada de subida, passamos por Estação de Prados, onde num momento, gado na estrada bloqueou totalmente nosso caminho! Não tinha por onde passar! seriam umas 100 cabeças mais ou menos… fora o medo de poder ser atacado por algum pois havia várias raças misturadas. Aos poucos e com muita paciência  eles foram andando na nossa frente até que aparecer um povoado por onde eles resolveram sair do nosso caminho. Nisto saímos na BR 265, perto da cidade Barroso onde resolvemos parar para almoçar. Como o pedal foi muito cheio de atrativos, nosso horário ficou apertado e tivemos que abandonar a ideia de ir por terra, e seguir pelo asfalto, pois já tínhamos reservas feitas em Correia de Almeida.
A BR 265 é maravilhosa! Um sobe desce com visuais fantásticos e o melhor… acostamento largo e um tapete!  Assim fomos até a cidade de Barbacena, fiquei impressionado com esta, pois está no alto de um morro, a 1100 m de altitude! Me lembrou a cidade de São Francisco em California, pois as ladeiras não terminam nunca! Cada canto da cidade tem um visual lindo, realmente algo bem diferente do que estou acostumado ver… uma cidade na ponta da montanha! Rodamos pelo centro, tiramos algumas fotos e pedalamos os 25km finais até o destino.  Em Correia de Almeida, o Daniel nos sugeriu uma pousada de chalés individuais, no qual ele tem desconto por levar vários ciclistas. Pagamos R$ 45 com café da manhã, chales individuais com SKY, frigobar, etc… chique demais!! A noite estava bem fria pois parecia que iria chover e estavamos a 1200 m de altitude.

No quarto e último dia, seria meu aniversário, o qual fiz questão de celebrar na estrada! Neste dia voltaríamos até Juiz de fora, mas pegando o caminho novo da estrada real, então fomos conferir um pouco de história pelas estradas… tomamos nosso café da manhã e na saída .. meu pneu dianteiro estava furado! Poxa vida… começar o dia assim logo no meu aniversário? rsrs… mas foi resolvido de forma rápida. Pegamos a BR 040   num pequeno trecho e começou a terra novamente… o dia estava bem nublado, quando chegamos no topo da serra do Navio, a vista era magnífica, um mar de morros mesmo! parecia não ter fim! A descida foi um pouco ‘dolorida’ pois os escravos construíram esta estrada com pequenas pedras as quais sofreram o desgaste do tempo e da erosão, já embaixo o tempo abriu de vez, aqui começaram as fazendas de sobes e descer, aquelas paisagens que a gente vê na logomarca da estrada real, a estradinha desenhando pelos morros, bonito demais! Chegamos na cidade de Santos Dumont, onde lanchamos e seguiríamos até Ewbank da Câmara  porém tivemos que fazer este percurso pela BR 040 pois a estrada real estava totalmente abandonada neste trecho, uma pena. Esses 10 km até Ewbank da Câmara foram tensos, pois a BR 040 não tem acostamento neste trecho e o transito é intenso. Vivos… seguimos até Juiz de Fora pela estrada real, já a magia foi acabando, perto das grandes cidades as favelas se fazem presentes, há muito lixo na estrada, a terra se transforma em rípio ou escória como os mineiros dizem. Muitos trilhos de trem por esta região, se não me engano administrados pela companhia RFFSA, passamos por alguns povoados até que saímos novamente na BR 040, pedalamos os quilômetros finais até o centro de Juiz de fora e aqui acabou a viagem… de volta a realidade.

Estou ansioso para voltar pra Minas e descobrir mais lugares, há estradas de terra infinitas, parecem que nunca acabam! Quero explorar melhor este estado maravilhoso, que requer muita força de vontade de nós ciclista pois o relevo não ajuda em nada! ainda mais quando estamos carregados… Foi uma experiência única pra mim pois nunca tinha viajado 4 dias, e muito menos usando 80% estradas de terra… algo totalmente diferente do que estamos acostumados… agora acho que não quero outra coisa! rsrs… estou procurando caminhos alternativos de terra por aqui no Rio, e estou maravilhado com o que estou descobrindo!

Confira o vídeo oficial da viagem! Vocês também podem conferir a minha página no facebook onde tem todas as fotos da viagem aqui

Enfim, foi um prazer poder compartilhar este relato, espero que sirva de algo para alguém e em breve terei novas aventuras para contar!

Abraços!

11 Comentários para este Post

  1. awulll Says:

    Parabéns pela viagem guri!
    Com certeza muitas outras bem mais longas virão na sequência.
    A honra é nossa de contar com esse relato aqui!
    Aqueles trechos longos em terra devem ter exigido bastante mesmo.
    Legal ter locais baratos pra descansar. Camping também é fácil de achar ou quase não tem?

  2. Pablo Di Giovanni Says:

    Camping você acha mais em cidades mais turísticas, tipo são joão del rey, Tiradentes… nas menores só hotel, mas e tão baratinho que Camping nem vale a pena!

  3. awulll Says:

    Não parece ser muito seco e ter tanta poeira também, ou é só impressão pelas fotos?

  4. Pablo Di Giovanni Says:

    É que pegamos um clima meio instável, todas as noites chovia um pouco, então a terra estava sempre levemente úmida, sem chegar a formar lama, mas num dia de rachar o sol deve ser bem seco!

  5. Rodyer Cruz Says:

    Grande Pablo!! Finalmente apareceu por aqui!!! Parabéns pela aventura e está mais que convidado a vir nos visitar aqui em Curitiba!!

  6. Marcus Cavalcanti Says:

    Grande Pablo.

    Sou fã dos seus pedais por terra. Nunca consegui sair do asfalto para a terra como eu gostaria. Não por falta de oportunidade, mas sim por falta de tempo (Trabalho x Estudos x Vida Pessoal).

    Ótimo depoimento. Ah! Belas fotos :) Foi um pedal e tanto.

    Abraços.

  7. Pablo Di Giovanni Says:

    Valeu Rodyer, estarei por lá um dia pode crer! Obrigado pela força!

  8. Pablo Di Giovanni Says:

    Marcus, a gente mora no mesmo estado rapaz, pedalo mais com quem mora fora rsrs! Faz uma forcinha e separa um domingo, a gente vai pra miguel pereira, ou ainda podemos fazer o vale das princesas, subindo petropolis e voltando por miguel pereira, vc vai gostar!

  9. Aramis Says:

    Parabéns Pablo. Show!
    Quando vier para Curitiba tem que descer a Estrada da Graciosa e seguir para Paranaguá heim.
    Abraços

  10. joão paulo Says:

    parabens pela jornada. Deus te acompanhe. ok que ja esta na vitoria da conquista.Boa viagem.

  11. awulll Says:

    wtf?

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