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Giro do Chimarrão II – Relato do Ronildo Ferreira da Silva

Postado em 17 dezembro 2012 por awulll

Primeiramente queria agradecer a toda a organização do Giro do Chimarrão II pelo comprometimento e pelo respeito a nós ciclistas profissionais e não profissionais. Pelas informações de trajeto, mapas, estrutura nos PCs, planejamento, etc…!

 

A Preparação

Comecei a me preparar para o Giro 6 meses antes, muito por conta do meu amigo de pedalada Moisés, que decidimos ter o Super Randonner 2012 e já comprar as passagens aéreas para o participar 1000Km.  Como a serie no inicio do ano aqui do Paraná foi cancela, decidimos fazer em outros estados. Eu fiz 200km em Florianópolis e o Moisés 200km em POA, depois fizemos 300km em São Paulo… e por um acaso, descobrimos que o Randonners da Lapa estava fazendo brevets. Assim brevetamos  400km aqui no Paraná e o 600km não aguentamos…  tentamos 600km em Floripa, eu brevetei mas o Moisés parou com fortes dores no joelho. Só faltava o 1000km. Não estava com vontade de fazer sozinho, mas o Moisés me convenceu e treinou comigo mesmo com dores.

 

O Planejamento

Uma semana antes peguei todas as informações do site, planilhei, visualizei mapas (e que kml show feito pela organização!), fiz rotas virtuais, simulei médias, o que cada saco da organização teria de acordo com o clima e distancia percorrida, etc. Peguei dicas com profissionais aqui do Paraná, o França me deu dicas valiosas que uma em especial  era ler os relatos dos participantes do Giro. Foi aí que minha vontade de fazer o 1000Km começou a subir! E pensar eu posso!

 

A Chegada em Porto Alegre 

Viajei de TAM um dia antes do Giro, não precisei tirar pedal, esvaziar pneus e nem alinhar guidão. A minha bike foi montada e com a etiqueta de frágil. Mas o que me assustou foi o peso dela com o Alforje, que deu 20kg, e juntamente com os sacos para a organização chegava nos 32, mas o pessoal da TAM não cobrou taxa por excesso de bagagem, e até pensaram que a minha bicicleta era uma moto.

Desembarquei em POA, e fui pedalando para o Hotel Porto Alegre. Lá encontrei o Rodyer e o Gilson de Joinville, almoçamos e contamos muitas aventuras de nossas pedaladas. O Gilson foi se concentrar em seu quarto e eu o Rodyer fomos  fazer um turismo no centro de POA.  Depois conheci Cezar do Rio que demorou umas 3horas para montar a sua bike; Combinamos de jantar e foi aí que conheci mais ciclistas do Rio, conheci até um profeta que ditou o gol do Grêmio em cima do Fluminense…

 

O Início do Giro – Porto Alegre/ Pântano Grande

Cheguei no DC Navegantes com a companhia do Rodyer e do TIM, mas logo conheci a Ninki que me fez parecer estar em casa. Recebi o meu kit e separei os 3 sacos que podia. No Briefing anotei tudo.

Saímos as 9h do dia 18, mandei uma mensagem para o Moisés com uma foto e escrevi… Você está indo comigo!.. . Sando do DC Navegantes decidi ficar por ultimo pois não conhecia a região, mas depois fui aumentando a minha media, pois o Moisés falou que neste trecho eu teria que puxar, passei por muita gente, essas pessoas devem ter pensando, quem é esse doido pedalando com um trator e carregando uma geladeira?

 

Socando Bota  – Pântano Grande/Encruzilhada do Sul

Saindo do Rabelândia em sentido a Encruzilhada com a companhia do Ilson, um gaúcho que conheci e que pedalaria por muitos trechos depois. Decidi socar a bota, mesmo na subida, pois percebi que meu planejamento estava atrasado, coloquei a largada as 8h e na verdade foi as 9h… assim tinha que pedalar para acertar o meu erro, encontrei o Eduardo de Lajeado saindo do mato, eu acho que a comida do Rabelandia não fez muito bem para ele, depois encontrei o Gilson com o pneu estourado. Pedalei sozinho até a Venda do Darci, ainda bem que o pessoal da organização sinalizou pois estava passando do ponto. Tomei uma sopa e aguardei alguns ciclistas.

 

A noite chegou – Encruzilhada do Sul/Pântano Grande

Coloquei a Anorak, pois já estava anoitecendo.  Sai junto com o Ilson, Calvete e ou pessoal de Teutônia, logo chegamos no posto Frank, aí foi só alegria, jantamos e descansamos. Ali eu vi rumores que alguns de Teutônia já queriam desistir, eu pensei… caraca preciso sair daqui logo não posso me contaminar… Assim partimos Eu o Ilson e o Calvete que conheciam bem a região, mas mesmo assim pegamos um trevo errado e fizemos +2Kms.Chegando ao Rabelândia alimentei novamente e vi que o pessoal se aprontou para dormir, mas eu só tinha programado para dormir no Hotel Clio.

 

Dormindo em cama redonda – Pântano Grande/Cachoeira do Sul

Sem a companhia do Ilson e do Calvete, decidi partir, mas foi neste ponto que conheci o Ruimar, um teutonense que deixara seu grupo, pois o pessoal estava começando a desistir. Partimos rumo ao Motel, no caminho paramos em um posto Papagaio para comprar um lanche para levar, pois no Hotel Clio não teria café da manhã. Começou a bater o sono, assim comecei a conversar com o Ruimar e saber um pouco mais sobre suas pedaladas. Chegando no Hotel Clio, decidimos dormir 2h e aproveitar para tomar um banho. Foi aí que me orgulhei no meu planejamento, com a ajuda da organização é claro! Lá estava o 1º Saco que tinha separado, com câmaras extras, pneu reserva, alimentação, roupas para o clima, desodorante, aloko que alivio…

 

Tomando Coca-Cola na casa das primas – Cachoeira do Sul/Passa Sete

Percebi que o meu pneu estava murcho, mas enchi em um posto ao lado o Hotel e parti assim mesmo para não me atrasar. Saímos juntos eu e o Ruimar, com destino a temida serra da Candelária…O pneu estava murchando e quando avistava um posto eu enchia, pois só queria trocar a camêra quando chegasse no  PA.(Tenda do Naldo). Na Tenda do Naldo encontramos o Gilson e o Rafael, tomamos vários sucos. O pessoal seguiu em frente e o Ruimar falou que ia devagar. Atrapalhei um pouco para trocar a camêra e acabei perdendo tempo. Tive que sair socando bota para encontrar o Ruimar, foi difícil mas o encontrei chegando próximo a Candelária, estava desgastado e precisa me abastecer de água, avistamos o posto onde estava o Gilson e o Rafael, mas decidimos seguir em frente e encontrar algum bar para comprar agua, não encontramos… começamos a subir a serra da Candelária, quando do nada avistei uma casa das primas, eu falei para o Ruimar aqui deve ter água! Uma prima nos atendeu e gentilmente enchei as garrafas para nós, e foi quando perguntei: Você por um acaso tem Coca-Cola? Ela respondeu sim! Era que eu precisava naquele calor, ela trouxe uma Coca-Cola de garrafa, pense em um garoto feliz, foi cara essa Coca-Cola, R$10 mas pagava R$20 pela raridade!

Chegou a subida, nunca vi nada igual… jamais vou esquecer. Eu adoro subida e comecei a subir eu o Ruimar passando pelo Gilson, Rafael, Ilson e o Calvete e o Cezar,  quando de repente, os cabos do cambio cederam e minhas marchas leves começaram a escapar, dando vários trancos e começando a ferrar o meu joelho. Tive que descer da bike, não quis arrumar e decidi andar, que vida! Subindo a serra empurrando uma bike de 20kg. Paramos em uma casa para pedir água, tentei novamente pedalar e estralava de novo, desci da bike novamente e o Ruimar seguiu. Chegando no topo encontrei o Cezar e pedalamos juntos até um venda para comprar água. O Cezar me pagou uma água geladinha! Valeu!. Chegamos no PC para almoçar, encontramos muitos ciclista e inclusive alguns desistentes que estavam esperando o Ônibus.

 

O primeiro susto – Passa Sete/ Cruz Alta –

O pessoal seguiu e eu fui arrumar minha bike, fiz uma gambiarra no cambio e soltei o freio traseiro pois estava pegando no pneu, estava cometendo um erro naquele momento, pois logo tinha uma descida e não consegui freiar e entrei em um cruzamento errado e pensei : Eu acho que essa rodovia vai cruzar o caminho certo!… engano meu, e quando estava muitos km fora da rota decidi voltar, mas já imaginou errar em uma descida?  E ter que subir tudo o que desceu?  Pedalei muito para chegar em alguém e ficar tranquilo e saber que agora estava certo. Conheci o Lazari, e fiquei sabendo depois que ele é referência para os ciclistas que se perdem, ou seja, meu caso! Logo encontrei o Rafael, Gilson, Ilson e o Ruimar. Chegando em Estrela Vermelha parei para comer uma Pizza como Gilson e o Rafael, pois o Ilson e o Ruimar não consegui avisar, pois estava sem força para gritar… Depois da pizza me animei, estava noite e decidi socar a bota sozinho, mas esse lugarzinho calmo começou a me dar sono e foi aí que tive o meu primeiro susto. Não percebi, estava indo de encontro a um carro em direção contrária, ainda bem que ele buzinou, se não ia passar no meio pensando que era duas motos! Depois disso veio uma tremedeira e comecei a mascar chicletes e cantar para não dormir mais, e chegando perto do PC encontro o Ilson com pneu furado, troquei para ele, pois ele estava sem forças e aproveitei para admirar aquela bike. Chegamos no PC, lá estavam muitos ciclistas, inclusive “os puxa Audax” com Rodyer, Tim e Cia. Foi lá que estava o meu 2º saco milagroso, com roupas, desodorante, comida, etc….

 

Sendo acordado pelos pássaros – Cruz Alta/Espumoso

Depois de um banho tomado e sem dormir, decidi sair juntamente com o Ilson e o Ruimar, comecei a pegar no sono na estrada esburacada, e a media abaixou e foi nesta hora que o Ruimar sumiu e depois só acabei encontrando suas rubricas nos PCs da vida. Este trajeto tem muito sobe e desce, estava eu o Ilson. E foi aí que tive o meu segundo susto. Devido ao sono em uma descida acabei cochilando e acabei derrapando no degrau do acostamento para a pista e quase cai na pista. Foi aí que decidi parar de teimar e dormir em baixo de uma árvore, e o Ilson tocou e falou que ia devagar, pensei esse filme eu já vi, terei que pedalar muito para chegar nele depois, mas tinha que dormi, pois a minha vida estava em jogo. Coloquei despertador para 30min depois, o despertador já estava na 5ª soneca quando fui acordado por um benditos pássaros brigando. Animado, pedalei pra caramba, passei pelo Claudemir, o Edson e nada do Ilson, foi quando o encontrei que reduzi o ritmo e fiquei aliviado por estar voltando na média. No PC logo saímos e paramos na primeira venda para comer pão com manteiga e tomar um café, que vida!

 

A Falta de água – Espumoso/Herveiras

Este trecho possui algumas subidas, mas dá para ir aproveitando e vendo a paisagem. Estava eu e o Ilson, quando avistamos um caminhão para pedir água, quem dera se fosse um caminhão pipa, pois o calor era muito grande que tivemos que parar novamente em uma casa para pedir mais água. Estava com muita fome de comida, não de barrinhas… chegamos entrar em uma Barros do Cassal pensando que o PA era dentro da cidade, mas retornamos e fomos descobrimos que ela a quilômetros dali. No PA encontramos chegaram depois o Cezar e o Claudemir e curtimos o almoço com direito a sorvete. O Claudemir quis saiu antes e depois saímos Eu, o Ilson e o Cezar, foi aí que virei fã do Cezar, a bike reclinada dele rasgava as descidas,  e o cara ia deitado filmando e tirando fotos! Quanta inveja!

 

Subindo a 20km/h – Herveiras/Santa Cruz do Sul

No PC arrumei meu freio, pois olhei na altimetria e era ali, se precisasse os freios iriam ser mais exigidos. Eu e o Ilson tocamos em frente e o Cezar decidiu ficar e dormir um pouco. Enfrentei a segunda maior subida segurando o cambio para não escapar a marcha. Quando de repente veio a descida, aí foi só alegria, tirei os pés da sapatilha e parecia o Valentino Rossi tirando os pés nas curvas para ajudar na tangente… no final dela, o Cezar passou rasgando o asfalto, parecia flecha!. Começou a escurecer e apagava e acendia meus faróis pois nesta região tinha muito inseto, e acabei comendo alguns. O tempo fechou parecia que estava prestes a acabar o mundo. Eu queria chegar logo no Turis, quando perguntamos para um rapaz na estrada e ele falou é depois daquela subida. Começamos a subir e comecei a sentir alguns pingos de chuva, não deu outra não queria molhar minha sapatilha, e não ia dar tempo de colocar a bota, subi como se fosse o Papa-Léguas a 20km/h, quando cheguei no Hotel o mundo desabou! Que sorte para mim, pois o Ilson chegará muito encharcado. Neste hotel eu tinha uma reserva individual e o 3º Saco, com roupas, comida, desodorante e agora um detalhe um prestobarba, que maravilha! O Ilson decidiu me esperar e acabamos dormindo 2 horas, e saindo sem chuva, mas com a pista molhada.

 

O erro grosseiro – Santa Cruz/ Charqueadas

Saímos do PC e fomos sentido Charqueadas, vento a favor… muito animado! O Ilson é da região e parecia estar em casa, só parecia! pois comecei a ficar desconfiado, passamos por um Pedágio, mas mesmo assim sentido Porto Alegre, e quando chegamos em uma cidade chamada Venâncio Aires, foi quando peguei a planilha para olhar, vi que aquela cidade não estava no mapa, resumindo, passamos 20km da entrada, bateu o desespero, pois teríamos que voltar mas 20km com o vento contra, muita calma nesta hora… perdemos 3h mais vamo que vamo. Chegamos na entrada correta, aí comecei a desconfiar de tudo, mas o Ilson se animou e agora ele me passava confiança. Encontramos o Lazari, Opa que alivio estávamos na rota!

Mas um pneu furado do Ilson, troquei para ele o pneu e fomos sentido ao PPP. Eu não como carne vermelha a 2 anos, mas com quase 1000km, fome e uma pizza de calabresa, eu não pensei duas vezes comi como se fosse uma criança. Éramos os últimos do Audax pois o Lazari teve que parar ali por problemas mecânicos. Encontramos a Vanessa e o Batata que nem pararam no PPP, mas seguiam firme e forte. Comecei a fazer algumas contas e por causa do meu voo marcado para 15h, vi que teria que socar a bota se quisesse terminar o Audax, tomar banho, arrumar as coisas e zarpar para Curitiba. Foi assim que me desgarrei do Ilson, Batata e da Vanessa. Cheguei no ultimo PC apressado e desesperado, eu tenho que terminar esse Audax, a Marga me ajudou nesta hora a me tranquilizar, foi fundamental a ajuda dela. Estava com medo de me perder novamente, pois estava pedalando sozinho, mas o pessoal da organização me ensinou direitinho e logo me orientei, mas sai rezando é claro!

 

PBP? Quase!  – Charqueadas/ Porto Alegre

Continuei socando Bota…, a altimetria era plana e favorecia a cadencia, mas o vento contra matava, mas fazer o que né! Nesta altura do campeonato vento contra é o que menos importa.  O meu GPS já não marcava mais corretamente, passou de 1000km ele muda a configuração e passa a mostrar o visor com alguns underlines e a distância pisca de minuto em minuto… Taí uma coisa que poucos vão ver, pois terão que passar de 1000km para comprovar. Estava no ultimo trecho quando avistei o Rafael, passei por ele voando… não sei se eu o motivei ou desmotivei… mas estava com pressa, pois tinha um Audax e um voo em jogo… neste mesmo ritmo passei pelo Claudemir aqui do Paraná e o Claudio do Rio. Quando avistei as pontes eu me animei mais ainda. Ainda errei um pouco antes de chegar, mas o importante é chegar no tempo. Cheguei com 73horas e uma distância de 1.114km percorridos… Quase um PBP! Cheguei deixei a bike, fui para o hotel de taxi, tomei banho, arrumei minhas coisas e fui para a comemoração! Com direito a cuia de chimarrão, certificado e muita história para contar.

 

3 Comentários para este Post

  1. Moises Marcus Retka Says:

    Parabéns Roni. Esta prova corou toda a temporada 2012. Cada vez mais esta difícil de te acompanhar… hehehe. Um abraço.
    Moisés

  2. Ronildo Silva Says:

    Que saudade que me deu!
    Li meu relato novamente só para me motivar! Por isso que é bom registrar!
    Vamo que vamo! Cuz*o! Bora ser SR novamente no Paraná!
    Quero subidas! Corupa! Castro! e Guarapuava!

  3. awulll Says:

    O 300 inteiro até acho que não, mas a subida da serra de Corupá não vai decepcionar… Lá é massa!

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