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Mulambice – Ricardo, Roda América

Postado em 19 fevereiro 2012 por awulll

É fundamental em grandes pedaladas uma alimentação adequada, para que o cicloturista tenha sucesso em sua viagem, como mostra o Ricardo Martins Batista na sua aventura “Roda América”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vídeo:

 

O último pedaço de pão por rodaamerica no Videolog.tv.

 

Nas palavras do próprio (trecho do livro que o Ricardo está escrevendo):

Munido da minha fortuna de um real e vinte e cinco centavos, devidamente convertidos em moeda uruguaia, lá fui eu na padaria comprar o máximo que podia. Consegui 6 pães, que basicamente seriam meu alimento por 2 dias. Tempos difíceis viriam, certamente.

A sensação de fome no começo apenas incomodava, depois passava a angustiar, depois a doer. Tudo começa com um desejosinho semelhante a gula, que vai aumentando e parece uma espécie de vazio bem no fundo da garganta. Esse vazio vai descendo até o estômago, que começa a doer e fazer barulhos nunca antes escutados. A dor provocada pela fome não é forte, é mais como um galhosinho que entra numa ferida e ali fica, doendo sempre um pouquinho e dando umas pontadas a cada vez que você se mexe. Me angustiava saber que tinha alguns pães e não podia comê-los ainda, pois os havia fracionado de modo a ter um pequeno pedaço do tamanho de uma bola de ping pong a cada hora, até o final do dia. Assim que comia meu pedaço, contava os minutos para o próximo pedaço que viria dali a 60 minutos mais.

Por momentos na estrada eu pedalava fechando os olhos por longos segundos, me imaginando comendo colheres de açúcar. Mentalmente eu comia açúcar em colheradas cheias, depois entornava o pacote na boca, passando os grãos por todo o rosto, lambendo os dedos. Sentia um prazer quase sexual por açúcar. Sou um glutão assumido e sempre tive a gula como pecado predileto, por isso definitivamente ficar sem comer mexia demais com o meu psicológico.

Quando me faltavam apenas 20 quilômetros para chegar na fronteira com a Argentina, sentei para comer meu último pedaço de pão. Aquela foi talvez a melhor refeição que fiz em toda a vida. Por muitos quilômetros fiquei buscando entre o espaço dos tentes qualquer migalha que por ventura eu não houvesse comido, e depois disso repetia mentalmente o filme daquele último pedaçinho sendo mastigado, pra que a memória em looping funcionasse como uma forma de matar a fome. Naquele dia jurei que jamais recusaria ou desperdiçaria comida. Só quem teve fome de verdade sabe o quanto dói jogar comida no lixo.

Meu corpo dava todas as razões para que eu me sentisse triste, desesperançado e abatido, mas minha mente estava tão viva e feliz que mal podia conter o sorriso no rosto. Eu não tinha nada, não estava com ninguém além de Capitu, não possuía um centavo no bolso e sequer uma migalha de pão, mas me sentia feliz.

Ainda não entendo bem os mecanismos geradores de felicidade. Por mais sonhador que isso soe, talvez simplesmente buscar a felicidade já me deixe feliz, e com isso me sinto capaz de suportar e superar o que for. Ter tudo ou nada, neste caso, é apenas um detalhe de execução.

 

 

2 Comentários para este Post

  1. MARCOOO Says:

    …por um pedaço de pão
    por uma história pra contar,
    por acaso, por um triz
    só pra contrariar…

    Ricardo ficou com cara de chileno na capa do vídeo de cima…

    Tudo Massa ! Até o Pão ! …haha :)

  2. awulll Says:

    Massa o trocadilho… hehe

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