Pedal Nordestino I – Natal/RN – Salvador/BA

   Que tal conhecer praias paradisíacas praticando o seu esporte favorito, revendo velhos amigos, fazendo novos e ainda absorver uma cultura incrível que antes vc só conhecia pelos meios de comunicação?
   Pois é, minha cicloviagem de 13 dias pelo litoral Nordestino teve tudo isso.
  Como é de praxe, sempre que tenho férias procuro um bom local para pedalar e desta vez resolvi fazer o trajeto entre Natal/RN e Salvador/BA.
   Esse roteiro estava “pronto” desde 2009,  pois logo após a CuritiBahia (pedalada entre Curitiba e Salvador pelo litoral) resolvi deixá-lo em stand-by até que uma oportunidade aparecesse. E não é que ela apareceu? Que tal acompanhar um amigo cicloturista que está viajando a mais de um ano pela América do Sul?
   Esse cicloturista é o Nelson Neto e seu site é o http://www.cicloturismoselvagem.com.br/.
   Nelson e eu pedalamos juntos na viagem do Atlântico ao Pacífico e na CuritiBahia, viagens que fizeram de nós, grandes amigos.
   Comprei passagem, arrumei as coisas e embarquei para Natal.
   Foram 6 estados percorridos (RN, PB, PE, AL, SE e BA) em 13 dias, num total de 1433 km.
  Deixo abaixo o “pequeno” vídeo de 55 min. Vale a pena ver.

Relato

Deslocamento – Paranaguá – Curitiba – Natal – 90 km
1º dia – Parnamirim(Natal/RN) – Praia da Pipa/RN – 61 km
2º dia – Praia da Pipa/RN – Mamanguape/PB – 85 km
3º dia – Mamanguape/PB – Pitimbú/PB – 128 km
4º dia – Pitimbú/PB – Recife/PE – 115 km

5º dia – Recife/PE – Porto de Galinhas/PE – 76 km
6º dia – Porto de Galinhas/PE – Maragogi/AL – 93 km
7º dia – Maragogi/AL – Paripueira/AL – 116 km
8º dia – Paripueira/AL – Maceió/AL – Lagoa do Pau/AL- 121 km
9º dia – Lagoa do Pau/AL – Rio São Francisco – Malhada dos Bois/SE – 128 km
10º dia – Malhada dos Bois/SE – Aracaju/SE – Caueira/SE – 142 km
11º dia – Caueira/SE – Conde/BA – 111 km
12º dia – Conde/BA – Praia do Forte/BA – Arembepe/BA – 150 km
13º dia – Arembepe/BA – Salvador/BA – 31 km


07 e 08/07/2013 – Paranaguá – Curitiba – Natal
   Acordei cedo, arrumei as coisas na bicicleta, assisti a etapa do Tour de France, almocei e só então saí para percorrer os 90 km que separam Paranaguá do aeroporto de Curitiba.
   Diferente dos dias anteriores, esse estava sendo de muito sol e por isso decidi não forçar muito o ritmo. Demorei 1h e 20 min para chegar ao início da serra do mar, a qual percorri em exatas 3h, incluindo um descanso de 20 min. Já no pedágio, descansei mais um pouco e logo segui para o meu destino do dia: O aeroporto internacional Afonso Pena.
   Ao chegar, pude apreciar um belo pôr-do-sol.
   Depois bastou desmontar a bike e esperar o avião, que partiria somente no dia seguinte. Haha…
   Entrei, encontrei um local para sentar e comecei a ler o livro Roda América, do meu amigo Ricardo Martins. Show. Todo aventureiro, cicloturista ou não, deve ler. Ficou curioso? Entre aqui e confira os detalhes.
   Quando o sono começou a bater, procurei um guichê inutilizado e dormi no chão, igual um mendigo. Confesso que estava com saudade disso.

   Ao acordar estava mais velho, ou seja, era meu aniversário. Eba!
   Fiz check-in, paguei R$ 75,00 por ultrapassar em 5 kg o limite de peso para a bagagem e embarquei para Confins, chegando lá às 8h e 30 min.
   Esperei, esperei e esperei, pois o meu outro voo só partiu às 14h e 50 min. Aproveitei para continuar a leitura do Roda América e para conhecer algumas mulheres mineiras. (Risada sacana)
   Ao chegar no destino, descobri que o aeroporto ficava em Parnamirim, uns 15 km ao sul de Natal e decidi que não iria conhecer a capital, pois ficaria no sentido oposto do meu deslocamento.
   Com essa decisão tomada, comecei o árduo trabalho de montar a bicicleta. Logo no início, um casal puxou papo comigo e depois de algum tempo me ofereceu um carona até uma pousada bem barata. É lógico que aceitei. Sérgio e Ully são os nomes. Obrigado por tudo.

 

   Na pousada conheci o Allan Marques, paulista que vive no Ceará e estava trabalhando no Rio Grande do Norte. Fomos comer algo e proseamos bastante. Acabei ganhando dele um misto quente de presente de aniversário. Para finalizar o dia, continuei a montar a bicicleta na pousada e descobri que durante o trajeto aéreo a minha corrente havia rompido. Tentei de muitas formas arrumar, mas só consegui um conserto provisório. Ah, as marchas também não estavam reguladas.

09/07/2013 – Parnamirim (Natal) – Praia da Pipa – 61 km

   Antes de sair da pousada tirei um foto com o Allan Marques, que além de trabalhador também é um viajante e conheceu boa parte do litoral nordestino.

   Saí faltando quinze minutos para as sete horas, entrei na BR-101 e logo peguei outra estrada com destino a Pium, litoral do Rio Grande do Norte.

   Nessa estrada, que era repleta de subidas e descidas, a corrente arrebentou e tive que diminuir um gomo. Decidi que quando chegasse numa bicicletaria iria trocar de corrente, mas infelizmente não deu tempo.
   Na última subida antes da bicicletaria, a gancheira (que estava torta há muito tempo) quebrou, jogando o câmbio contra os raios e quebrando a corrente novamente. Que M…!
   Empurrei a bicicleta por uns 300 m e felizmente encontrei a tal bicicletaria (Barbosa).

Tive todos os motivos para ficar bravo, jogar a bike no chão, gritar e até desistir da viagem, mas não, apenas expliquei o problema e esperei. Acho que aqui valeu a experiência adquirida em outras viagens, principalmente naquelas com perrengue.
   Quando ocorreu tudo isso, as horas já passavam das oito e eu tinha pedalado míseros 12 km.
Enquanto esperava, tive uma longa prosa com o Juilson (dono do mercadinho ao lado da bicicletaria) e o Carlos. Obtive informações preciosas com os dois. Obrigado galera.

   Exatamente às 10h e 40 min a minha bicicleta ficou pronta. Agradeci o trabalho do pessoal e segui meu caminho.
   Em pouco tempo eu estava na Praia do Cotovelo, onde pude ter uma ideia de como seria o meu pedal pelo litoral nordestino. Falésias e mar imensamente lindo. Recebi uma injeção de ânimo e continuei feliz da vida.

   Logo depois eu estava ao lado do maior cajueiro do mundo, com uma área de 8,5 mil metros quadrados, em Pirangi do Norte. Incrível

   Deixei a bike na entrada, paguei a taxa de R$ 5,00 e fui conferir a árvore que equivale a 70 cajueiros normais. Andei por todas as partes possíveis para o turista, sempre registrando o momento.

   Ao sair do cajueiro enfrentei uma subida forte para chegar a Praia de Pirangi do Sul, onde também tirei algumas fotos. O mesmo fiz nas praias de Búzios e Tabatinga, sendo que na primeira apreciei um local digno das praias do Caribe e na última encontrei uma subida de inclinação bem forte e por conseqüência um mirante fantástico.

   Fui pedalando paralelamente ao mar e pude tirar belíssimas fotos no alto das falésias.

   Conversei com alguns guias que falaram para eu não perder muito tempo tirando fotos, pois para chegar à Praia da Pipa seria necessário percorrer 5 km pela areia e a maré estava enchendo. Pensei e decidi seguir no mesmo ritmo, pois queria aproveitar cada momento daquele dia.
   Com esse intuito, conheci a Lagoa de Arituba, no município de Nísia Floresta, as praias de Camurupim e de Barreta. Pensei que iria cansar de visualizar o mar, mas não. Quanto mais eu olhava o Oceano Atlântico, com aquela água perfeita, maior ficava minha vontade de morar naquele lugar.

   Tudo passou muito rápido e quando percebi já estava no fim da estrada, onde deveria pedalar pela areia.
   Confirmei o caminho com outros guias turísticos e segui.
   Foram 4 km pedalando na areia fofa e apenas 1 empurrando, pois a bike atolava.
  A água, por diversas vezes, molhou meus pés e minha bicicleta, inclusive a corrente e as marchas. Contudo, eu estava feliz.

   Cheguei na balsa que leva para a Praia de Timbaú do Sul cheio de areia. Deixei a bike no barco e dei um mergulho de lavar a alma. Que sensação boa.
   A travessia não foi cobrada e em pouco tempo eu estava na praia citada acima. Tomei uma água de coco e percorri os últimos seis mil metros do dia numa estrada cheia de pequenas subidas,descidas e falésias.

   Ao chegar na famosa Praia da Pipa, fiz questão de tirar uma foto na placa que indica o local e depois fui procurar um camping. Infelizmente o único camping do local estava fechado, fazendo com que eu apelasse para uma pousada.

   Encontrei a pousada Cavalo Marinho, que apesar de um pouco cara (R$ 35,00), me cativou.
   Tomei um banho e saí conhecer a vila.
   A vibe do local é extremamente boa. Achei parecida com a Praia do Rosa, no litoral sul de SC. Gostei muito do que vi. Diversos bares e restaurantes para quem quiser curtir a noite.
   Tirei algumas fotos da praia, comprei 5 pães, algumas fatias de salame e voltei pra pousada. Enquanto degustava todos os pães, conversei com o argentino Gaston que trabalhava no local. Recebi dicas importantes sobre o caminho que deveria seguir, pois ele havia pedalado o mesmo trajeto no sentido contrário.

   Ao voltar para o quarto, descobri que o mesmo era compartilhado com homens e mulheres, pois encontrei um casal de amigos de São Paulo. A moça estava com pressa e me convidou para fazer companhia com eles no jantar. Aceitei, mas depois percebi que estava atrapalhando algo, então me despedi e fui dormir.

   O primeiro dia foi repleto de emoções. Dormi imaginando como seriam os outros.

10/07/2013 – Praia da Pipa/RN – Mamanguape/PB – 85 km

   O dia começou cedo, pois acordei às 6h e fui conhecer a baía dos golfinhos. Caminhei ao lado de falésias durante trinta minutos. O visual era fantástico: do lado esquerdo havia gigantescas falésias e do lado direito, a imensidão do oceano.

   Ao chegar à baía dos golfinhos, fiquei um pouco decepcionado, pois a maré ainda estava alta e os mamíferos se encontravam um pouco longe, mas mesmo assim consegui filmar alguns. 
   Voltei para a pousada, tomei um farto café da manhã e segui meu caminho. Mal sabia que o trajeto a ser percorrido era tão lindo.

   Primeiramente conheci a deslumbrante Praia do Amor, depois passei pelo local denominado Chapadão e quando vi, estava pedalando exatamente no topo das falésias.

   Parei, fechei os olhos e fiquei alguns minutos sentindo o vento bater em meu rosto e ouvindo a deliciosa melodia das águas do mar batendo nas rochas. Foi espetacular!

   Diretamente proporcional a beleza do local, foi a dificuldade de percorrê-lo pedalando, pois além do vento contra, em muitos momentos a bicicleta atolava na areia.

   Com paciência cheguei à Praia de Sibaúma, onde encontrei a pequena balsa que atravessava para Barra do Cunhaú.

   Na balsa queriam cobrar R$ 10,00 por uma travessia de 100 m. Que absurdo! Conversei e consegui que não cobrassem, mas eu deveria esperar até que um carro fizesse o deslocamento. Para minha sorte, em menos de um minuto apareceu um carro e pude atravessar.
   Em Barra do Cunhaú fiz uma pequena parada num mercadinho e tive uma boa conversa com um menino e uma funcionária. O menino ficou muito interessado nas viagens de bicicleta e perguntou bastante, já a moça, quando soube que eu era professor, proseou sobre colégios e concursos públicos. Segundo ela, lá na região, um colégio público paga melhor do que um particular.
   Despedi-me e fui direto para a balsa que atravessa para a Praia de Baía Formosa, aquela onde filmaram a novela Flor do Caribe. Dessa vez o preço era justo, R$ 2,50.

   Atravessei e escolhi pedalar pela areia da praia ao invés de fazer uma trilha por dentro de uma fazenda.
   Não conheci a tal trilha, mas acredito ter feito a escolha certa.
   Foram 9 km enfrentando a areia fofa e o vento contra, porém a sensação foi fantástica. 
   Pela segunda vez no dia, fechei meus olhos e procurei absorver toda a magia daquele local. Vento, mar, falésias e uma paz. Momentos assim deveriam ser eternos.

   Fui pedalando devagar e aos poucos a vila de Baía Formosa foi ficando mais próxima. Cheguei na mesma às 11h e 20 min.
   Como eu tinha pedalado míseros 20 km, decide voltar para o asfalto da BR-101. A estrada que leva para a BR era uma montanha russa repleta de coqueiros nas laterais, mas mesmo assim percorri os 18 km dela rapidamente.

  Na BR-101 o que atrapalhou bastante foi o conjunto: vento contra e subidas. Confesso que foi difícil equilibrar corpo e mente. Aos poucos fui raciocinando e decidi dormir em Mamanguape, já no estado da Paraíba. 
   Durante essa última parte, tirei foto na divisa, parei num posto em Mataraca e encontrei um caminhoneiro de Curitiba.

   Por fim, acampei em um posto ao lado da BR, tomei um belo banho, comi um farto x-salada e dormi escutando o segundo jogo do Atlético Mineiro pela semi-final da libertadores. A última coisa que lembro foi um grito de: SÃO VITOR!

11/07/2013 – Mamanguape/PB – Pitumbú/PB – 128 km

   Ao sair do posto, enfrentei um sobe e desce danado, com 3 subidas fortes, na BR-101. Foram aproximadamente 50 km até a entrada da capital da Paraíba, João Pessoa.

   Quando virei para a esquerda, sentido João Pessoa, a chuva começou a cair. Parei num posto e esperei um pouco. 
   Como meu foco não eram os grandes centros, apenas atravessei a cidade e a impressão que tive foi de um bom lugar para viver, pois a capital paraibana não é tão grande.

   Foram 10 km atravessando a cidade, onde enfrentei mais uma pancada de chuva.
   Ao chegar na Praia do Cabo, a precipitação deu uma trégua e pude filmar e/ou tirar fotos. Achei a praia muito organizada. Gostei principalmente da limpeza e da enorme ciclovia.

   Ao seguir, conheci o Farol mais oriental das Américas. Parei, tirei fotos e conversei com algumas pessoas.
  Depois pedalei por uma estrada bem tranqüila até a Praia de Jacumã. Nessa estrada fiquei curioso com algumas placas que indicavam a venda de galinha capoeira e foi inevitável não pensar numa galinha manjando dos paranauês. (risada sacana). Depois descobri que se trata da nossa galinha caipira.

   Em Jacumã, esperei que outra nuvem de chuva passasse e depois fui conhecer a praia. Achei muito bonita, com diversas opções para o turista.

   Depois segui por uma estrada cheia de subidas moderadas até a famosa Praia de Tambaba. No caminho parei no trevo onde eu deveria virar e perguntei para alguns trabalhadores se Tambaba estava perto. Como a resposta foi positiva, não perdi tempo e fui conhecer. Foram alguns quilômetros planos, mas no final desci uma forte ladeira e pronto.
   Então descobri o motivo de Tambaba ser tão famosa, pois além da sua natureza exuberante, ela é uma praia de NUDISMO. Caraca!

   Na hora decidi que não poderia perder essa oportunidade única, mas depois descobri que homem só pode entrar acompanhado. Fiquei um pouco decepcionado, pois confesso que gostaria de ter vivido essa experiência. Bem, na verdade já vivi no pedal Lagamar, mas estava sozinho e em uma praia “normal”. (risada sacana)
   Resolvi aproveitar a parte de Tambaba que não é naturista. Tirei fotos, filmei e comprei uma gargantilha que tem seus elos bem parecidos com o pino da corrente de bicicleta.

   Posso dizer que, na medida do possível, consegui curtir o local, que com certeza é um dos mais exóticos já visitados na minha vida de cicloturista.
   Ao voltar para o trevo agradeci os trabalhadores e segui para os últimos 23 km do dia. Essa última parte foi repleta de enormes aclives e bons declives. Em alguns momentos pude ter uma visão privilegiada do mar, mas logo despencava morro abaixo e depois enfrentava uma ladeira gigantesca.

   Passei por algumas vilas, mas destaco apenas Camocim, onde ganhei uma degustação da fruta Mangaba. Gostei.

   Ao chegar em Pitimbú, meu destino do dia, procurei camping e não encontrei. Procurei pousada barata e também não obtive sucesso. Estava decidido a fazer um acampamento selvagem, mas a chuva começou a cair torrencialmente e literalmente a ideia foi por água abaixo. Acabei dormindo numa pousada de R$ 40,00, sem café da manhã.


12/07/2013 – Pitimbú/PB – Recife/PE – 115 km
   
   Sabia que esse seria um dia especial na aventura nordestina, pois eu iria encontrar o grande Nelson Neto, cicloturista que estava viajando pela América do Sul (http://www.cicloturismoselvagem.com.br). Nelson e eu pedalamos juntos na viagem do Atlântico ao Pacífico e na CuritiBahia, viagens que fizeram de nós, grandes amigos.
   Saí de Pitimbú com um sol de “rachar a cuca”, tirei algumas fotos da praia e segui até Acaú por uma bela e tranqüila estrada de paralelepípedos. Nela, tive o inusitado encontro com um macaquinho que transitava pelo fio de alta tensão sem se importar com a minha presença logo abaixo. Tirei algumas fotos, filmei e depois segui.

  Logo após Acaú a tranqüilidade foi embora, pois o fluxo de caminhões até a BR-101 aumentou consideravelmente e como se isso não bastasse, algumas subidas tiveram que ser vencidas. Foi um pouco tenso, mas bastou ter uma atenção dobrada.

   Já na BR-101, atravessei a divisa entre a Paraíba e Pernambuco e comecei a rir sozinho quando vi a ínfima distância até Recife: Aproximadamente 60 km.

Neste trecho fiz uma parada estratégica na polícia federal para pegar água e outra num restaurante para tomar um refrigerante, pois o calor estava castigando.
   Logo após o trevo para Itamacará, o trânsito ficou horrível e o acostamento sumiu. Novamente dobrei a minha atenção e segui até a cidade de Paulista, onde liguei para o Nelson. Ele não atendeu, mas mandou uma mensagem dizendo que estava na casa do João Almeida, ciclista da capital pernambucana. O Nelson avisou o João que eu estava chegando e ele autorizou a minha estadia. Por último, recebi uma mensagem com o endereço e continuei minha pedalada.

   Nesse tempo que fiquei trocando mensagens, conheci o Almir, outro ciclista da região. Ele, que estava de carro, guiou-me até a orla de Olinda e indicou o melhor caminho até a casa do João. Agradeci o Almir, tirei uma foto dele e seus filhos e continuei.

   Pedalei pela orla de Olinda e sinceramente não gostei muito. Acho que devido às belíssimas praias conhecidas, fiquei mal acostumado. 
   Ao sair da beira-mar, passei rapidamente pelo centro histórico de Olinda e após um viaduto, entrei em Recife.

   Novamente destaco que o meu foco não era conhecer os grandes centros e por isso apenas atravessei a cidade sem me preocupar em conhecer os lugares famosos. Meu objetivo era conhecer as praias.
   O trânsito era frenético, bem diferente de João Pessoa, mas com as dicas do Almir, cheguei facilmente na casa do João.
   Eram aproximadamente duas horas da tarde e o Nelson teve uma grande surpresa quando avisei que já estava na porta do apartamento. Hehe
   Nos abraçamos e conversamos bastante, afinal há tempos não nos víamos. Foi engraçado, pois ao mesmo tempo que estava revendo um amigo, também estava de frente com uma lenda do cicloturismo. Sorte a minha. Hahaha…
   Depois a família do João chegou e um pouco mais tarde, o próprio anfitrião. Gente boníssima.
   Para aproveitar o momento histórico, saímos comer uma pizza e recebemos uma cortesia do nosso amigo pernambucano. Obrigado João Almeida.

   Quando voltamos, planejamos o trajeto a ser percorrido no dia seguinte e só depois dormimos o sono dos justos.


13/07/2013 – Recife/PE – Porto de Galinhas/PE – 76 km
   Durante a noite, uma chuva começou a cair e de manhã tivemos que enfrentá-la. O João Almeida, que iria nos acompanhar até o fim da reserva do Paiva, nos levou para a Praia de Boa Viagem, famosa pelos ataques de tubarão.
   A chuva deu uma trégua somente na hora de tirarmos algumas fotos, mas depois resolveu cair torrencialmente, deixando alagadas as ruas e a ciclovia.

   Após sairmos da orla, pedalamos até a ponte estaiada que dá acesso a Reserva do Paiva, com seus milionários e suas mansões. Na ponte tiramos fomos da paisagem e conversamos com dois ciclistas locais.

   Depois aproveitamos a boa ciclovia da reserva para pedalar sem a preocupação com o trânsito. Show! No fim da reserva, o pneu do João furou e fizemos uma parada para lanches e consertos.

   Ao seguirmos, enfrentamos uma subida e tivemos uma grande surpresa com a vista que ela nos proporcionou. O local se chama Mirante de Itapuama. Tiramos fotos do mar com a cidade de Recife ao fundo. Muito bonito.

   Após o mirante, bastou pedalarmos mais alguns míseros quilômetros para chegarmos na PE-028, onde infelizmente o nosso anfitrião iria nos deixar. A despedida foi rápida, mas o agradecimento se estende pelo resto da vida. Obrigado João Almeida.

   Foram poucos quilômetros na PE-028, mas devido à falta de acostamento e ao alto fluxo de veículos, o trajeto se tornou tenso. Novamente a atenção ficou maior e graças a Deus, nada de ruim aconteceu.

   Quando entramos na PE-060 ficamos surpresos com o ótimo acostamento e a duplicação da pista. O relevo também ajudou e rapidamente passamos por Ipojuca, onde infelizmente a pista voltou a ser simples.
   Depois bastou virarmos a esquerda na entrada para Porto de Galinhas. Nessa estrada as subidas tornaram a aparecer, mas nada muito absurdo. Antes de chegarmos ao nosso destino diário, enfrentamos uma bela pancada de chuva que não tirou nossa empolgação e por sorte, quando estávamos no perímetro urbano da praia, o sol voltou a aparecer. Perfeito!

   A tão sonhada chegada em Porto de Galinhas será difícil de ser esquecida. Primeiro por causa de um guia turístico que insistiu em nos mostrar algumas pousadas, segundo pela quantidade de ônibus turísticos que estavam estacionados ao lado da rodovia e terceiro pelo impressionante astral do local.

   Passamos por um calçadão onde era proibido pedalar e por isso começamos a empurrar nossos veículos. Nesse calçadão descobrimos um bom lugar para almoçar (R$ 10,00 para comer a vontade) e também uma dica de uma pousada barata, mas o ápice foi quando chegamos à praia em si.

   Ao olharmos aquele mar verdinho, com diversas jangadas coloridas e as piscinas naturais bem perto da areia, ficamos impressionados. Nossos olhos “brilhavam”.

   Foi a praia mais bonita que conheci na viagem, quiçá a mais bonita que já vi na vida. E olha que conheço o litoral brasileiro desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte.
   Resolvemos então tirar fotos em frente a uma jangada que tinha o nome da praia estampado na sua vela triangular e enquanto nos preparávamos para o devido registro recebemos o convite do jangadeiro Messias, dizendo que nos levaria gratuitamente para as piscinas naturais. Aceitamos imediatamente e só pedimos um tempo para deixarmos as coisas numa pousada. Em seguida o Nelson foi abordado por um turista e tamanha foi a surpresa dele ao saber que o cara era um ciclista do Amapá que meses antes lhe oferecera hospedagem. Seu nome era Wilson Silva e estava acompanhando religiosamente o relato da cicloviagem do meu amigo. Eles conversaram um pouco e depois se despediram.

   Pois bem, procuramos e encontramos uma pousada a poucos metros da praia por R$ 35,00. Considerando a distância em relação ao mar e a badalação do local, pagamos barato.
   Ao voltarmos para a beira-mar tivemos que esperar um pouco pelo Messias e aproveitamos o tempo para curtirmos a praia. Tiramos fotos e filmamos muito. Realmente o local é incrível.

   Quando o Messias chegou para nos presentear com o passeio de jangada, nossos sorrisos pareciam não caber na boca, tamanha a nossa felicidade. Ao chegarmos nas piscinas naturais, descobrimos estar realmente num paraíso. A água límpida nos proporcionava a visualização de inúmeros peixes que, talvez por estarem acostumados, não tinham medo da nossa aproximação. Além disso, estávamos caminhando em cima de corais e lembro do Nelson ter comentado: Hoje estamos vendo que o Messias literalmente anda sobre as águas.
   Ficamos um bom tempo no local. Mergulhamos, tiramos fotos de um arco-íris que se formou e depois voltamos para a vila.

      Foi uma experiência extraordinária. A todos que tiverem a oportunidade de conhecer Porto de Galinhas, não pensem duas vezes. Podem ir.
   Para finalizar o dia, comemos que vimos ao chegar em Porto e depois fizemos um pequeno passeio pelo vilarejo.


14/07/2013 – Porto de Galinhas/PE – Maragogi/AL – 93 km

   Ao acordarmos, a chuva que havia começado no final da tarde do dia anterior, ainda teimava em cair. Pensamos que não teríamos problemas com ela e fomos saborear um delicioso café da manhã na pousada. Pense em dois mendigos mortos de fome. Pois é, aproveitamos e comemos muito. (Risada sacana). Depois, bastou-nos terminar de arrumar as coisas e partir.
   Nosso caminho seguia sentido sul, em direção a Serrambi. Contudo, fomos avisados de que 3 pontes caíram na estrada pela qual passaríamos. Disseram ainda que estavam informando os motoristas que a passagem de carro não seria possível e nos deram esperança ao falarem que talvez as bicicletas passariam. Resolvemos arriscar.
   Seguimos tranquilamente debaixo de muita água, pois a chuva aumentou. Quando chegamos à suposta primeira ponte, descobrimos um rio passando pela estrada, se é que podemos chamar aquilo de estrada, pois a lama tomara conta de tudo.
   Segurei a bicicleta do Nelson (Victoria) e o mesmo foi fazer o reconhecimento do local, enchendo o pé de lama para verificar minuciosamente o caminho. Quando voltou, disse que era possível passar, mas deveríamos levantar as bicicletas em alguns trechos.
   Ambos estavam tensos, ou melhor, atentos. Ao poucos fomos atravessando o lamaçal e depois de conseguirmos, rimos bastante da nossa situação: Pés e bicicletas totalmente imundos.
Tirei algumas fotos do pedal off-road antes de seguirmos.

   Logo apareceu a segunda ponte e depois a terceira. O procedimento para atravessar foi o mesmo. Com sucesso, é claro.
   Antes de chegarmos no trevo para Serrambi, ainda passamos por mais alguns trechos de lama, mas dessa vez sem rio. No trevo ficamos indecisos e por sorte apareceu um motorista que nos informou o lado certo: Direita.
   Nessa hora o tempo já estava melhor e quando voltamos para a PE-060 não havia mais chuva, porém começaram as subidas. Nada muito difícil, mas como a paisagem não ajudava, os constantes aclives se tornaram chatos.
   Almoçamos na cidade de Rio Formoso e depois seguimos enfrentando as subidas.
   A meu ver, a única parte legal deste trecho foi uma Reserva de Mata Atlântica, com um túnel de bambus, que começou logo após o trevo da Praia de Tamandaré. Pena que o trecho da reserva foi curto, mas serviu para melhorar o meu astral.
   Ah, não conhecemos Tamandaré por estar fora da nossa rota, mas pelo que vi nas fotos, a praia é bem bonita.

   Depois passamos pelas cidades de Barreiros e São José da Coroa Grande, sendo que nessa última, a estrada finalmente ficou plana. Aleluia!
   Em seguida tiramos fotos na divisa entre Pernambuco e Alagoas e percorremos 15 km até Maragogi.

   Aqui vale destacar que, perto de Maragogi, fiz uma pequena pausa para fazer xixi e instantes depois apareceram dois rapazes numa biz. Não é que os caras me encheram de perguntas enquanto eu estava mijando? Pô….não se pode nem mijar em paz. (risos)
   Pegamos uma entrada secundária para ir até a praia de Maragogi e depois de algumas informações chegamos na beira-mar. Seguimos até a casa de uma senhora chamada “Ne”.

   Demoramos um pouco para encontrar a casa, porém tudo deu certo. Falamos com a mãe da “Ne” e imediatamente ela chamou a sua filha que nos levou até a casa do Henrique e da Suely.
   O Henrique, que é tio do nosso anfitrião de Recife (João Almeida), nos cedeu a casa para passarmos a noite.
   Ao chegarmos na casa, ele estava lá. Tivemos uma boa conversa, tomamos uma taça de vinho e nos despedimos. Obrigado por tudo Henrique.
   Antes de finalizarmos o dia, fizemos uma limpeza nas bikes e nas roupas sujas. Ossos do ofício.


15/07/2013 – Maragogi/AL – Paripueira/AL – 116 km
   Acordamos cedo e fomos tirar fotos da praia, pois como a fama de Maragogi era grande e no dia anterior não achamos nada extraordinário, resolvemos olhar novamente.
   Confesso que continuei com a mesma opinião. Até acredito que Maragogi seja um verdadeiro paraíso, mas infelizmente não consegui ver isso. Quem sabe a fama venha das piscinas naturais que ficam a uns 5 km da costa. Se for isso, prefiro Porto de Galinhas, onde as piscinas são próximas da praia. Tiramos algumas fotos simbolizando a nossa decepção e fomos embora.

   Desde que entramos no estado de Alagoas, estávamos pedalando na AL-101, que é “uma continuação da PE-060”. Essa estrada continuou plana e em muitos trechos podíamos ver o mar. Que coisa boa!

   Ao chegarmos em Japaratinga erramos o caminho, mas só descobrimos depois de 3 km. Voltamos, perguntamos e encontramos o trajeto correto. Trajeto que passou a ser de calçamento, entretanto, mostrou-nos um cenário surreal. 
   A Praia de Japaratinga é muito bonita e tranqüila. Seus diversos coqueiros espalhados à beira-mar dão um ar de sossego ao local. Ficamos um bom tempo apreciando aquele mar verde/azul.

   Depois pedalamos pelo calçamento durante 12 km e parecia que a cada metro percorrido a natureza nos apresentava um lugar mais bonito que o outro. Até as casas que encontramos no caminho (vilarejos de Bitingui e Boqueirão) pareciam estar em completa harmonia com o local. Naquele momento começamos a entender a fama que o litoral alagoano tem.
    Paramos diversas vezes para registrar as paisagens.

   Passado o calçamento, chegamos na balsa para Porto de Pedras. A travessia para ciclistas não custa nada, porém é preciso esperar que um veículo também a faça. Confesso que estava meio impaciente para esperar e sugeri ao Nelson que atravessássemos com um barco menor que estava saindo e nos cobraria R$ 2,00. O Nelson me olhou e disse: Calma, logo aparece um carro, pois é o único caminho. Menos de 5 min depois, bingo!

   Em Porto de Pedras paramos para um lanchinho e devoramos rapidamente alguns pães.
   Em seguida passamos por uma belíssima estrada cheia de coqueiros de ambos os lados. A empolgação foi enorme.
  Essa estrada cortava os municípios de Tatuamunha, São Miguel dos Milagres e Barra do Camaragibe, sendo que nesta última deveríamos pegar uma balsa para a Barra de Santo Antonio. Deveríamos, pois novamente erramos o caminho. Dessa vez só descobrimos o nosso equívoco 15 km depois, quando estávamos em Passo do Camaragibe. Ficamos indignados com o nosso “amadorismo”, mas logo analisamos o mapa e traçamos um novo roteiro.

   Aproveitamos para almoçar em Passo do Camaragibe e depois seguir até São Luis do Quitunde e Barra de Santo Antonio.
   Nesse trecho, que pedalamos a mais, a estrada apresentou uma série de subidas e descidas, além de uma paisagem um pouco diferente, com diversas fazendas e plantações de cana.

   Em Barra de Santo Antonio perguntamos sobre o caminho que não fizemos, mas ninguém soube explicar se ainda existe balsa no local.
   Enfim havíamos voltado para o litoral e novamente podíamos ver o mar. Que beleza!
  Pedalamos mais 11 km até Paripueira, onde primeiramente fotos conhecer a praia e depois se instalar numa pousada de R$ 15,00 cada.


16/07/2013 – Paripueira/AL – Maceió/AL – Lagoa do Pau/AL – 121 km
   O pequeno trecho da AL-101 entre Paripueira e Maceió foi marcado pelos buracos na pista e pela falta de saneamento básico. Bem, pelos menos a paisagem continuava belíssima. Paramos para tirar algumas fotos na Praia de Garça Torta e depois seguimos.

   Ao entrarmos na capital alagoana vimos uma placa que direcionava para a orla e para nossa surpresa, as condições mudaram completamente. Não havia mais buracos e muito menos esgoto. Agora me pergunto: Se tem verba para deixar a orla em perfeito estado, porque não tem para arrumar uma das principais entradas da cidade e dar melhores condições da vida para os moradores locais? 
   Tiramos fotos e depois começamos a pedalar pela imensa ciclovia que atravessa toda a orla. Passamos pelas praias de Jatiúca, Ponta Verde (seu nome faz jus à cor do mar) e Jaraguá.
  Confesso que foi a orla mais bonita entre as capitais pelas quais passamos. Tiramos muitas fotos e filmamos também.

   Todo esse trajeto durou apenas 10 km e logo já estávamos na Av. Assis Chateubriand, onde fizemos uma pequena pausa para um caldo de cana e depois seguir até o Pontal da Barra.

   No Pontal voltamos a pedalar pela AL-101, mas em condições totalmente diferentes das apresentadas na entrada de Maceió. Inclusive com duplicação.

   Aumentamos o ritmo e percorremos 22 km até a Praia do Francês, que fica a uns 3 km da rodovia. Confesso que no início não gostei muito da praia, mas o Nelson me convenceu do contrário. Nela existem áreas boas para o surf e áreas para famílias, com piscinas naturais. A areia é fofa e branca. Um paraíso.
   Escrevendo esse relato, vejo o quando eu estava errado sobre a minha primeira impressão. Acho que foi por causa do movimento, pois quando chegamos na Praia do Francês, ela estava lotada e isso não me agrada. Prefiro praias desertas.
   Agora, revendo minhas lembranças/fotos com calma, concordo com o Nelson: Foi a melhor praia que conhecemos no estado de Alagoas. Vale a pena conhecer.

   Voltamos para a AL-101, pedalamos aproximadamente 10 km debaixo de um sol escaldante e paramos para almoçar num restaurante a beira da estrada, no município de Barra da São Miguel. Ao sabermos do preço (R$ 20,00), já estávamos indo embora, mas uma funcionária fez um desconto de cinco reais. Aceitamos e não nos arrependemos. Estava um delícia.
   No período vespertino a estrada voltou a ser simples, porém os coqueiros retornaram de ambos os lados. “Perfeitamente perfeito” Tiramos algumas fotos e depois enfrentamos uma boa subida até o maravilhoso Mirante do Gunga.

   No mirante ficamos mais pobres em R$ 2,00, mas foi um bom investimento. Do alto se pode ver a Barra de São Miguel e a praia homônima ao mirante. Também se observa uma enorme plantação de coqueiros, o que deixa o lugar ainda mais bonito.

   O trajeto final foi marcado por uma montanha-russa cheia de buracos. Isso fez o nosso ritmo diminuir drasticamente. 
   Passamos pela entrada da Praia da Lagoa Azeda e seguimos até Jequiá da Praia, onde fiz um racha com alguns “bicicleteiros” locais. Depois levei uma pequena bronca do Nelson…hauhau.

   Quando a noite chegou, faltavam 12 km até a Praia de Lagoa do Pau, na região de Coruripe. Pedalamos tranquilamente e completamos o trajeto do dia.


17/07/2013 – Lagoa do Pau/AL – Rio São Francisco – Malhada dos Bois/SE – 128 km


   O dia começou com uma rápida visita na Praia de Lagoa do Pau. Achei a praia bonita e tranquila, mas normal.

   Passamos pela entrada de Coruripe e seguimos em direção a Barreiras, aonde vimos pela primeira vez uma placa informando o caminho para Salvador.

   De repente começaram a surgir coqueiros por todos os lados e novamente estávamos pedalando numa estrada mágica, na qual o trânsito era quase nulo. Incrível.

   Passamos por Miaí de Cima, Miaí de Baixo, Feliz Deserto e paramos para almoçar em Piaçabuçu, onde faríamos a travessia do Rio São Francisco.

   Devoramos rapidamente a refeição e fomos ao encontro do Velho Chico, nome carinhoso do rio.
   Desde pequeno eu ouvia falar do São Francisco, um dos rios mais importantes do Brasil e posso dizer que estar às margens dele foi de arrepiar. 
   Tiramos fotos e conseguimos uma travessia para o estado de Sergipe por apenas R$ 3,00.

  Se já era incrível estar nas margens do Velho Chico, imagine atravessá-lo. Tentei aproveitar ao máximo aquele momento ímpar.

   Ao desembarcar estávamos em Brejo Grande/SE. De lá, foram 26 km até Pacatuba, onde os aclives começaram. Subia um tanto e depois descia novamente, assim foi durante um bom tempo, até que de repente uma reta enorme surgiu. Não perdemos tempo e aceleramos.

   No fim, ainda enfrentamos mais 18 km de um pedal noturno numa estrada movimentada (SE-304).
 

   Dobramos a atenção e proseamos muito. Entretidos com as conversas, chegamos rapidamente na BR-101 e fomos até um posto de gasolina perguntar sobre pousadas. Por sorte havia uma a 500 m. 

   Nos instalamos e só então descobrimos o nome do local: Malhada dos Bois.
  Aproveitei que estávamos num local com iluminação e comecei a consertar um meu bagageiro que havia quebrado. Demorei bastante, mas o resultado ficou bom.


18/07/2013 – Malhada dos Bois/SE – Aracaju/SE – Caueira/SE – 142 km

   Começamos a pedalar bem cedo e com um tempo diferente dos dias anteriores, ou seja, com chuva.
   A BR-101 alternou trechos bons e ruins. Ela estava sendo duplicada e em alguns momentos tínhamos uma pista inteira interditada para nós, porém em outros momentos a pista continuava simples e sem acostamento. Acrescente a isso várias subidas e descidas na chuva. Paciência.

   Depois de 28 km saímos da BR e pegamos uma estrada que para Japaratuba (não confundir com Japaratinga, que já foi relatada aqui).
   Ali perguntamos o caminho para o litoral e enfrentamos novamente vários aclives fortes. Para piorar, a chuva aumentou. Foram 15 km de montanha-russa molhada e depois mais 8 km enfrentando um vento contra que testou a nossa paciência.

   Ao chegarmos em Pirambu um veículo estacionou na nossa frente e o motorista disse que era dono de um restaurante mais adiante e nos convidou para tomarmos uma água de coco. Agradecemos e combinamos de aparecer minutos depois.
   Além desse regalo, a cidade de Pirambu nos trouxe uma pista em melhores condições, com um amplo acostamento em condições perfeitas.
   Apertamos o giro e logo chegamos no povoado Canal – Barra dos Coqueiros, onde fica localizado o restaurante Tempero Caseiro, do Sr. Augusto, aquele que minutos antes nos convidou.
   No restaurante ganhamos água de coco e doce de leite caseiro. O Sr. Augusto conversou bastante conosco. Foi uma ótima prosa com uma pessoa muito culta. Obrigado Sr. Augusto.

   Ao voltamos para a estrada fomos surpreendidos com uma usina eólica. A combinação da praia com a usina eólica deixou o trajeto bem agradável. Aproveitamos bastante o momento, até porque eram os últimos quilômetros que pedalaríamos juntos nessa aventura, pois o Nelson ficaria um tempo em Aracaju e eu seguiria até Salvador.

   Entre o povoado Canal e Aracaju foram 26 km. Chegamos na entrada da capital sergipana às 13h e 10 min.
   A despedida foi rápida. Apenas nos abraçamos, desejamos sorte um para o outro e combinamos de nos encontrar no sul. Encontro que se realizou aqui na minha casa em setembro de 2013. Veja aqui.
  Pedalando novamente solo, entrei em Aracaju pela ponte Construtor João Alves, sobre o rio Sergipe. Achei a cidade relativamente grande.

   Fiz uma pequena pausa para perguntar o caminho até a Praia de Atalaia e fui indicado a seguir sempre o rio. Quase na saída da cidade enfrentei novamente uma chuva forte, mas que não me fez parar.

   Ao chegar em Atalaia descobri uma praia bem estruturada, com uma avenida enorme que tem tudo o que um turista precisa. Destaque para a Passarela do Caranguejo, com restaurantes e bares que servem comidas típicas da região.

   Segui por essa avenida por 16 km, onde enfrentei uma garoa fina com um fortíssimo vento lateral. Passei pelas Praias de Aruanã, Robalo, Refúgio e Mosqueiro. Todas muito parecidas.

   As horas já estavam avançadas e ao chegar em Mosqueiro descobri que não havia camping ou pousada. Resolvi adiantar o meu roteiro e pedalar por mais 15 km até Caueira.

   Em Caueira demorei uma meia hora até encontrar uma pousada barata.
   Depois tomei um bom banho, um belo café oferecido pelo dono da pousada e dormi.


19/07/2013 – Caueira/SE – Conde/BA – 111 km
   Os quinze primeiros quilômetros do dia foram debaixo de chuva. Depois ela resolveu dar uma pequena trégua e por sorte eu consegui tirar algumas fotos da Praia do Saco. A praia, com diversas dunas, é bonita e dela se pode observar ao longe a Praia de Mangue Seco, que fica na Bahia. Registrei o momento e segui meu caminho.

   Enquanto voltava os 4 km da entrada da Praia do Saco a chuva retornou. Encharcado, mas ainda com calor, atravessei a ponte Gilberto Amado, inaugurada em janeiro de 2013. Essa ponte facilitou muito o meu trajeto, pois sem ela eu deveria voltar para a BR-101 e depois seguir para o litoral novamente. Economizei muitos quilômetros.

   O grande problema foram as infinitas subidas e descidas que vieram após a ponte. Meu ritmo diminuiu bastante. Foram 25 km de montanha-russa até a divisa com a Bahia e depois mais 37 km, na famosa linha verde baiana, até a vila de Conde. Na subida a chuva até refrescava o calor ocasionado pelo esforço, mas na descida ela atrapalhava bastante a minha visão. Pelo menos no momento que atravessei a divisa ela havia parado, mas só naquele momento. Hehehe

   Cheguei bem cedo em Conde, aproximadamente 14 h, mas como estava cansado e molhado, resolvi parar.
   Fiquei numa pousada bem barata, tomei um banho, lavei as roupas, fui numa lan house, comprei comida e depois fiquei um bom tempo descansando.




20/07/2013 – Conde/BA – Praia do Forte/BA – Arembepe/BA – 150 km
   Levantei cedo para percorrer uma boa distância e deixar poucos quilômetros para o dia seguinte, que seria o último.
   Foram 6 km até encontrar a linha verde que continuou com suas imensas subidas e descidas, mas desta vez não foi a chuva que atrapalhou e sim o sol escaldante. Quando eu estava feliz, pois tinha terminado um fortíssimo aclive, já aparecia outro no meu campo de visão.

   Um pouco depois das 11h eu já tinha percorrido 80 km e aproveitei um posto da polícia para fazer uma pausa. Conversei bastante com o policial Wellington, que também era ciclista e não mediu esforços para me ajudar. Ganhei água gelada, que foi imediatamente consumida. Parecia que eu não tomava água havia uma semana. (Risada sacana).
   Antes de sair, o Welliington me informou que a Costa do Sauípe era um complexo de hotéis e não uma praia com acesso livre. Que droga!
   Eram 12h quando continuei meu calvário pela montanha-russa escaldante da linha verde. Passei pela entrada da Costa do Sauípe, tirei uma foto e segui até a Praia do Forte.

   Ao chegar na entrada da Praia do Forte, tive que percorrer mais 4 km até a beira-mar. O caminho, com um lago e depois um gigantesco calçadão, é muito bonito. Achei a estrutura parecida com Porto de Galinhas/PE, mas a praia pernambucana é muito mais bela.
   Ao chegar na beira-mar, deixei a bicicleta num lugar seguro e entrei com roupa e tudo na água. Foi um momento mágico. Eu estava tão quente e cansado, que ao entrar no mar tive um grande alívio. Queria ficar ali pro resto do dia. Curti e relaxei bastante. “Lavei a alma”

   Ao sair da água, conversei com o Jota Pê e suas amigas, um pessoal de Teixeira de Freitas/BA e depois fui procurar um lugar para pernoitar.
   Procurei, mas não achei nada em conta e resolvi pegar a estrada novamente. A minha ideia era parar em Guarajuba, mas acabei seguindo até Arembepe. No caminho passei por Itacimirim e só depois lembrei que foi a praia onde o Amyr Klink terminou a sua remada entre a África e o Brasil. Pra quem não conhece a aventura, deixo aqui o nome do livro: Cem dias entre céu e mar.
   Ah, vale destacar que após Itacimirim a estrada se tornou plana, um alívio para as pernas.

   Ao chegar em Arembepe procurei uma pousada, mas como preço estava alto, resolvi acampar na aldeia hippie. Enquanto me deslocava à aldeia, encontro um bombeiro que me ofereceu uma pousada por um preço razoável. Decidi conferir.
   No caminho para a pousada conversamos com um amigos dele: Zé, Déo e Nani. Que galera gente boa! Na prosa descobri que o bombeiro se chamava Luis, mas era conhecido por Mestre Orelha, um capoeirista renomado. Também descobri que o Luis foi um dos bombeiros que fez a escolta do Amyr Klink na chegada em Itacimirim. Caramba, que massa!
   Na pousada, que ficava de frente pro mar, tomei banho, lavei roupa e depois fui junto com o mestre na soperia da sua esposa Cláudia.
   Lá tomei uma sopa de curry com banana e um chá de hibisco. Muito bom. Em seguida fui comer um acarajé e dar um passeio pela cidade, onde acabei encontrando os amigos do Luis e junto com eles comi um pizza.

   Por tudo o que escrevi acima, achei Arembepe fantástica. A energia do local é impressionante. Vale a pena conhecer.
   Por fim, restou voltar à pousada e dormir.



21/07/2013 – Arembepe/BA – Salvador/BA – 31 km

   O último dia começou com uma caminhada pela praia até a aldeia hippie. O lugar é sensacional e tem uma energia tranquilizadora. Tirei algumas fotos e depois voltei pra pousada, onde um belo café da manhã estava me esperando.

   Comi pão doce, pudim, mamão, pão francês com geléia/manteiga e conversei bastante com a Cláudia, esposa do Mestre Orelha. Depois tomei um banho, tirei uma foto com o mestre, me despedi do Zé, do Déo e da Nani e fui percorrer os derradeiros quilômetros da viagem.

   Deixo aqui um abraço enorme pro pessoal fantástico que conheci em Arembepe. 
  Na estrada, resolvi pedalar lentamente para tentar aproveitar ao máximo e também para não suar muito. (Hehehe…). Encontrei grupos de ciclistas, dentre eles o Mural de Aventuras (http://muraldeaventuras.blogspot.com.br/) e também conheci um ciclista chamado Wanderson, que me acompanhou por algum tempo.

   Parei ao encontrar a placa que indicava a minha entrada em Salvador, tirei foto e fiz um vídeo. Estava realmente empolgado por ter terminado a aventura. A sensação era de dever cumprido. 
   Foram 6 estados percorridos (RN, PB, PE, AL, SE e BA) em 13 dias, num total de 1433 km.

   No fim, ainda pedalei até o aeroporto, desmontei a bike e esperei o avião.

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