Mensagem de Luto
É com profunda tristeza que informamos o falecimento de um importante e participativo membro de nossa comunidade: EGON KOERNER JÚNIOR, 55 anos. Foi vítima de acidente fatal de trânsito, no qual, mais uma vez, um motorista embriagado foi o responsável pela tragédia que se acometeu, não somente sobre Egon e seus familiares, mas sobre todos aqueles que fazem do ciclismo o seu estilo de vida e a sua paixão. Egon participava do último Brevet Audax 400, realizado no sábado (15/03/2014) quando, por volta das 22h, nas proximidades do Km 143 na BR-277, sentido Curitiba, foi surpreendido por um veículo dirigido por motorista embriagado que, abruptamente, invadiu o acostamento em velocidade incompatível com os limites estabelecidos para a rodovia. É do nosso conhecimento também que outro colega, que com ele pedalava naquele momento, conseguiu desviar da trajetória desenvolvida pelo veículo e felizmente nada sofreu, ao contrário de Egon que, não compartilhando da mesma sorte, lamentavelmente não resistiu à colisão.
Não é a primeira e nem a segunda vez que testemunhamos, pelos noticiários, a vida de um colega das pistas ser abreviada por motoristas alcoolizados que conduzem suas armas livremente, praticando atrocidades, numa clara demonstração de completa ausência de condições para dirigir e de mínimas condições de convívio em sociedade. Mas isso vai adiante. O comportamento desses verdadeiros assassinos por si só já é uma tragédia diante da qual todos parecemos indefesos, e nós – que fazemos de nossas bicicletas uma alternativa sustentável para o mundo de hoje – estamos fadados a suportá-la aparentemente sem qualquer perspectiva de mudança. O que mais nos desperta o sentimento de revolta, por outro lado, é a incapacidade ou a falta de vontade do poder público diante de tantos eventos brutais como estes. São centenas ou milhares de acidentes todos os anos, os quais deixam incontável número vítimas fatais ou, quando agarradas à vida, em agonia diante de todos os tipos de sequelas, mas que sempre ou quase sempre terminam sem uma solução ou na impunidade.
Acreditamos que a sociedade, de um modo geral, já não aguenta mais a brandura com a qual vem atuando o Poder Judiciário ao julgar esses assassinos ao volante. Não é possível que em um país como o nosso, onde as cidades abrigam cada vez mais um número maior de pessoas, elas não sejam respeitadas e assistidas em sua fragilidade. É inadmissível, em pleno século XXI, ainda termos de lutar e levantar bandeiras para tentar movimentar o Estado em direção à preservação da vida. Basta dessa indiferença. Não admitamos mais que se perpetre essa leniência do poder público em relação aos acidentes cujas vítimas são justamente as pessoas – razão de ser da formação do Estado – que se esforçam para cooperar na busca por uma alternativa diante dos problemas de mobilidade.
Por ora, resta a incerteza: será que deveríamos fazer campanhas para lembrar aos nossos governantes a razão pela qual as cidades existem e a sociedade (cujo propósito desde os primórdios se sustentou em metas como autopreservação e desenvolvimento), assim como tal, é conhecida? Será que é tão difícil compreender que as pessoas (nós, seres humanos) são a verdadeira razão pela qual tudo mais que buscamos ou construímos deva existir? Ou será que há alguma coisa mais importante e de maior relevância em nosso planeta do que a vida? Parece espantoso, mas lamentamos ter de informar que respeito pela vida é algo ainda a ser alcançado pela nossa civilização.
À família do Egon os nossos pêsames, mas acima de tudo a nossa solidariedade. Nós estaremos sempre ao seu lado, compartilhando a dor e a busca incessante pela justiça. Aos colegas e entusiastas do ciclismo em todo país, saibam que, mais uma vez, fomos agredidos, deixados à própria sorte e tudo indica que parece não termos a quem recorrer. Com efeito, tragédias como essa imprimem em nossas vidas a sensação de que a cada colega ou a cada vida que perdemos para a indiferença, mais difícil fica continuar adiante sem se deixar consumir por um sentimento profundo de revolta em razão do descaso e do abandono, não importa em qual de suas acepções. Um verdadeiro vazio angustiante. Por fim, resta-nos apenas perseverar e continuar a luta por melhores condições para nosso esporte. Certamente, este seria o desejo do Egon.