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PBP 2011 – Relato de Nilson Ricardo de Macedo

Postado em 15 março 2013 por awulll

 

5.225! Eis o número de desatinados que tentaram concluir, sob condições climáticas pouco amistosas, a 17ª edição do Paris-Brest-Paris, em 2011. O PBP, como é mundialmente conhecido, é o mais antigo e famoso desafio de ciclismo de longa distância do planeta (modalidade esportiva que mais cresce atualmente). Na belíssima região da Bretanha, noroeste da França, a cada 4 anos, ciclistas do mundo inteiro tentam completar, num tempo limitado e em etapa única, um percurso de mais de 1.200 km!

Direito à inscrição, só para os iniciados, pois são previamente exigidos os brevets de 200, 300, 400 e 600 km, homologados pelo Audax Club Parisien, no mesmo ano em que for acontecer o evento. Ainda assim, um terço dos que largam, não concluem a via crúcis.

Muitos dizem que o pior é ficar sem dormir… a verdade, é que não basta pedalar bem. Muita coisa pode tirá-lo de combate, desde um acidente ou pane no equipamento, a graves problemas de saúde devido às condições extremas. Pra piorar, a logística é complicada, a ajuda externa é proibida (só de outros participantes), e você ainda pode perder-se ou deixar de carimbar o simpático carnet de route (tarefas simples são negligenciadas quando estamos cansados ou ficamos sem dormir…).

Glória aos 2.000 voluntários, cuja dedicação dispensada viabilizaram o evento e às comunidades locais pelo apoio incondicional e absolutamente comovente. Você lê no chão, em letras garrafais, “o pior já passou, faltam apenas 397 km”; ou, então, “não desista agora, você já está voltando…!” ou, simplesmente “tenha coragem”. Ao amanhecer, famílias montam mesas de café na beira da estrada, em frente às suas casas: sucos, pães, biscoitos, tudo; nada é cobrado! Madrugada fria, região erma, alguém parado no meio do nada para servir água aos participantes. Cruzamento confuso, tarde da noite e com chuva, lá estava uma senhora, só para informar aos passantes qual caminho seguir. Faltando 200 km, um calor dos infernos, e um velhinho a pé, com uma caixa, dando pêssegos aos sobreviventes… Centenas ficam nas ruas só para aplaudir e incentivar…e levam seus filhos para que aprendam como se faz… Tanto incentivo, amor e dedicação da parte daquela gente, tanto reconhecimento por um ato de bravura, que você jura pra você mesmo que terminará aquela loucura, e dentro do tempo, só pra não decepcioná-los…

Registro aqui minha profunda estima e admiração pelo povo francês, que com sua educação e altruísmo recheado de coragem deram-me, sem ter a mínima noção disso, uma das maiores lições que já recebi em toda minha vida.

História: o primeiro PBP aconteceu em 1891 – ieéia de um jornalista chamado Pierre Giffard, que via a bicicleta, já naquele tempo, como um bem social. As demais edições foram se realizando mais ou menos a cada dez anos até que, em 1951, foi realizada pela última vez como competição para ciclistas profissionais, devido ao número pouco expressivo de participantes (que debandavam, cada vez mais, para o Tour de France). Antes disso, ainda em 1931, paralelamente às provas profissionais e com percurso idêntico, vinham ocorrendo os desafios de longa distância que continuaram sendo realizados mesmo após a extinção do evento profissional e conquistaram, nos anos que se seguiram, grande popularidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1 Comentários para este Post

  1. Rodyer Cruz Says:

    Excelente Relato Nilson!! Sintetizou bem o que é o PBP – Em 2015 muitos vão ler e fazer o PBP e terão esta mesma opinião.

    Esse cara dos Pessegos eu peguei uns 15 pessegos dele, vim com os bolsos cheios.

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