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PBP – Relato do Rafael Dias Menezes

Postado em 28 agosto 2011 por awulll

Eu estava inscrito para a categoria de 84 horas. A minha opção por esta opção foi simplesmente por questões de evitar a muvuca das 90 horas e de não precisar ser tão rápido quanto o pessoal das 80 horas. Simples assim. Quem sabe eu não dava uma aproveitada e ainda tirava algumas fotos dos castelos na região da Bretanha…

Por pura falta de tempo para procurar hospedagem e com a falta de resposta dos albergues que encontrei no fuaj acabei ficando com uma das reservas feitas pelo Della.

O meu embarque estava para quinta feira, dia 18. No decorrer da semana arranjei um malabike rígido e meti a bicicleta nele. À princípio não tive muitos problemas em levá-la. Levei a bike no aeroporto com a ajuda de alguns amigos e a embarquei. Tive a felicidade de encontrar o João Saboia e Silas Batista no aeroporto. Seguimos no mesmo avião.

Chegamos no aeroporto CDG na sexta feira de manhã. João foi para a sua hospedagem e eu e Silas fomos em direção à Plaisir. Achei muito fácil deslocar pela França e as pessoas estiveram sempre disponíveis para dar informações sobre como proceder para chegar à nosso destino.

O primeiro imprevisto que ocorreu foi em uma das baldiações de metrô. Acabei esquecendo o endereço do hotel em um banco da estação de St Martin e quando chegamos em St Quentin não sabíamos nem o nome do Hotel. Só me lembrava que era Pavillon alguma coisa (pavilhão das gatinhas) e que ficava a uns seis quilometros de St Quentin. Depois de algumas horas revesando a bateção de perna acabamos conseguindo permissão para usar um computador no centro de informações do SQY e com isso descobrir onde ficava o hotel.

O resto da semana foi tranquila. No hotel que estávamos, Pavillon des Gatines, acabamos encontrando vários outros ciclistas que iriam participar do PBP: Richard, Cezar, Leandro, Milton, o Hulli hulli! (http://audaxdocarvao.blogspot.com/2009/09/figuraca-do-carvao-luiz-raul-pereira.html) e tantos outros. Achei que o ambiente foi ótimo para a concentração, conversas… enfim, para se ambientar ao evento e respirar o PBP dia à dia. Pena que não estavam todos os brazucas por lá. Enfim…

Fiz a vistoria no sábado à tarde, mesmo estando marcada para domingo de manhã.
No domingo não fomos acompanhar a largada do pessoal das 90 horas e muito menos das 80. Eu fiquei no hotel pensando na vida.

Na segunda partimos, eu, Silas e Richard junto com um pessoal do Canadá que estava no hotel. Chegamos em St Quentin às 4:30 e ficamos esperando a largada. Acabamos ficando para o segundo grupo. Os outros dias haviam sido um pouco quentes mas na segunda feira o tempo amanheceu encoberto. No momento da largada começou a cair uma chuva fina. O dia prometia.

Saímos às 5:20. Depois de alguns quilometros Silas grudou em um pelotão e fiquei pedalando junto com Richard. Quando passávamos em algumas vilas e o pessoal via a minha roupa fora do padrão ficavam bestas. Alguns gritavam, outros ficavam com cara de espanto e muitos diziam “Courage!”. Assim ia pedalando. As estradas estavam em bom estado e o clima nublado favorecia muito o pedalar e, como Richard mesmo dizia, deveríamos descer a bota e descansar nos PCs. A estratégia era de manter uma média boa, perto dos 22-25km/h, paradas estratégicas para comer e passar Chamois na bunda (para não assar) e continuar pedalando. A estratégia estava boa.
Paramos mais ou menos no km 90 para comer alguma coisa e encher as caramanholas. Eu já havia perdido o Silas de vista. Logo continuamos e alguns quilometros depois eu tive que parar na beira da estrada para tirar água do joelho. Neste momento perdi o Richard de vista.
Continuei pedalando com um grupo formado por pessoas da Espanha e um francês, que quando me viu falou alguma coisa da minha roupa que não consegui compreender direito. Só entendi que ele perguntou se eu não tinha saído do trabalho direto para o pedal. Bom, isso havia se tornado rotina.

Alguns quilometros depois, acho que no 120, tive o meu primeiro problema mecânico: o câmbio traseiro entrou na roda e se partiu ao meio. Também foi um raio para o espaço. Muito bom isso tudo… :S
Andei mais ou menos uns 10km até chegar em Mortagne-au-Perche. Enquanto passava por uma cidadezinha, a prefeita foi lá me perguntar o que havia acontecido. Apontei para a roda traseira e ela falou “Big problem”. Perguntou se eu não queria ser levado até o posto de atendimento. Eu não aceitei (quase que fui devido o desânimo que havia me abatido) e continuei andando. Quando estava saindo da cidadezinha a prefeita reaparece com uma garrafa d’água e me oferece um pouco. Assim que enchi as caramanholas ela diz “Courage!”. Nisso passa o Ivan e diz alguma coisa que não entendi no momento. Estava meio abatido. O que me dava ânimo para continuar andando é que não tinha outra forma de retornar para casa. Caminhar até SQY me tomaria muito tempo e só me restava continuar em frente. Depois de um tempo um americano passou por mim e perguntou o que ocorreu. Quando disse e mostrei a roda ele anotou a minha placa e foi até Mortagne-au-Perche e chamou um dos caras da organização. Foram lá me buscar.

Cheguei no PA com a cara da derrota impressa na minha face. O mecânico pegou a bike, trocou o câmbio traseiro e o k7 sem ver o que havia ocorrido e me liberou, depois de mais ou menos uma hora. Assim que saí do PA, na primeira subida o câmbio entrou novamente. Praticamente desisti. Caminhei três quilometros até o PA (com todos os ciclistas que passavam perguntando o que ocorrera) e assim que cheguei no PA novamente estava tudo fechado. Pensei: “Pronto, nem cansei ainda e estou fora. Que legal.”. Eis que me aparece o mesmo cara que me trouxe de carro da primeira vez e chama um outro mecânico. Ele perguntou como foi que aconteceu o incidente e começou a investigar o que havia acontecido. Foi para a casa dele buscar algumas ferramentas e depois de quase duas horas viu que a gancheira estava torta (provavelmente entortado na viagem SP-Paris). Remontou a bike, trocou o câmbio traseiro e deu uma ajeitada no K7. Com a ajeitada ele não conseguiu ajustar a passagem de todas as marchas. Ferrou pois ele havia me deixado somente com as 4 marchas mais pesadas e eu sabia que o percurso não era muito fácil, principalmente quando fosse retornar de Brest. Enfim, como canso de dizer: É o que tem para hoje, tio!

Perdi muito tempo nesta estória toda. A minha bicicleta quebrou por volta das 11:00 e às 15:00 estava saindo pela segunda vez de Martagne-au-Perche. Teria mais ou menos 3 horas para chegar ao PC e ter alguma chance. Pedalei como estava pedalando antes do incidente, porém a minha performance nas subidas havia caído muito pela falta de marchas mais curtas. Consegui chegar em Villaines-la-Juhel faltando 15 minutos para o fechamento. Comi algo rápido, parei para o número 1, passei chamois e vazei. Sabia que seria trabalhoso chegar em Fougères. Continuei pedalando sem parar para quase nada. Peguei uma tempestade “sussa” com direito a raios entre Lassay-les-Châteaux e Ambrières. O curioso é que eu estava pedalando com um indiano (eu acho, o cara não falava nada) e toda vez que caia um raio ele gritava de medo (eu tmb, é claro). Pensei seriamente em desistir neste momento, mas acabei continuando pois “o que é um peidinho para quem já está todo cagado?”.

Cheguei em Fougères restando duas horas para o fechamento do PC. Me perdi nas sinalizações da cidade e quando vi já estava meio que fora dela. Fiquei parado em uma rotatória esperando alguém chegar, mas como não aparecia ninguém decidi continuar. Depois de uns 7km constatei que passei direto mesmo, pois estava em Romazy. Fiquei meio desesperado pois sabia que até o centro de fougerès era no mínimo uns 10km e poderia não dar tempo. Bati em uma casa (deveria ser lá pelas 23:00) e a dona da casa me convidou para entrar. Disse que não dava e perguntei se ela sabia onde era o PC (claro, estava contando que ela nao soubesse de nada e eu aí eu jogaria a toalha) ela me deu o endereço e logo o marido dela apareceu e começou a convesar com ela. No meio da conversa ela disse que iria me levar de carro (novamente tive que explicar que não seria possível). Ela deu uma sugestão que eu achei mais plausíuvel: ela iria de carro me esperar na entrada de Fougerès, me guiaria até próiximo do PC e depois iria embora. Assim fizemos. Saí 23:20 achando que não daria mais tempo, pedalei que nem um insano e em 20 minutos cheguei no PC. Agradeci a escolta e fui. Marquei o passaporte, comi e vazei. Quando passei novamente em Romazy, a moça que me ajudou estava me esperando com uma garrafa de chá quente, pão e queijo. Parei e tomei um chá quentinho. =)

Continuei pedalando que em direção à Tinteniac. O sono começou a bater. Dei umas pescadas sobre a bike e tive que fazer algumas pausas para micro sonecas. Já sabia que estava cansado e não conseguia girar leve devido ao problema de troca de marchas. Passei pelo Leandro Pestana (Audax Rio) e continuei. Cheguei em Tinteniac restando 3 minutos para o fechamento, Leandro chegou logo em seguida. Parei para dormir um pouco. Tirei as roupas ensopadas e leandro colocou o despertador para 30minutos. Bom, esses 30 minutos demorou 1:15 e acordei pois comecei a tremer de frio. Isso me preocupou. Parei, fiz algumas flexões de braço, alguns poli-chinelos e recoloquei as roupas. Acordei o Leandro, que quando viu as horas desistiu. Sabia que seria impossível chegar em Loudeac à tempo mas decidi tentar. Tomei um chocolate quente, peguei a bike e vazei. Não sei como mas pedalei muito forte e cheguei no posto secreto em tempo ainda. Os voluntários carimbaram o passaporte e praticamente avisaram que eu estava com o tempo muito apertado para continuar. Decidi continuar. O PC de Laudeac fechava às 8:30. Novamente pedalei forte e cheguei em na divisa de Laudeac às 9:00. Bom, abateu-se o desânimo. Parei, comi uma barrinha de cereal e comecei a empurrar a biicicleta. Entrei em um pomar de maças, tomei café em um restaurante na beira da estrada, entrei em um castelo nas redondezas do centro de Laudeac. Cheguei no PC às 10:00, entreguei o passaporte e retornei para Plaisir de trem. O desânimo foi tanto que me deu vontade de largar a bicicleta em qualquer lugar e deixar ela para algum francês. Pensei nisso muitas vezes até que quando vi já estava no trem com ela.

Cheguei no hotel às 20:00. Fiquei a quarta-feira no hotel e à noite fui ver a chegada do Della e do Rodyner. Depois fui até Mortagne-au-Perche para dar um apoio ao Jorge e esperar o Richard chegar para dar uma força. A Lidiane estava lá em Mortagne. Havia desistido e acabamos a levando para Plaisir.

12:00 fui para SQY esperar o Richard chegar. Fui pedalando junto com a Lidiane e entre Plaisir e SQY acabei pedalando com alguns que vinham de Brest.

Bom, é isso!

Fiquei contente com os que completaram, com os que não completaram, enfim, com todos. Afinal não é para qualquer um estar em um evento desta magnitude.

Fotos:

8 Comentários para este Post

  1. awulll Says:

    Uma pena… realmente uma grande pena! Foda…

  2. Rodyer Cruz Says:

    Putz Grande Rafael! Você era uma das minhas apostas neste PBP – Parabéns pelo esforço e a Raça de nunca desistir isto é melhor que qualquer vitória, meu velho!!! Nos vemos pelas estradas por aeww

  3. Aramis Says:

    Puts….é foda ter que abandonar um pedal desses. Tive que abandonar uma pedalada longa em jan2010 e foi desanimador. Mas bola pra frente, outros pedais virão e muitas conquistas tb. Abraços

  4. rafael dias Says:

    valeu pela força, pessoal!

    no momento fiquei meio abatido por ter perdido o horário do PC, mas já foi. Na quinta feira já estava pedalando para ir ver os meus amigos chegando em SQY.

    bom, bola para frente.
    No feriado já recomeço a pedalar pelo vale do Paraíba. Bora?
    =)

  5. awulll Says:

    Pelo menos pra mim ainda não rola, valeu o convite! Em outubro devo pegar mais pesado e talvez dê uma passadinha por aí.

  6. rafael dias Says:

    beleza!
    O convite está aberto.

    quando quiser vir é só avisar.

  7. Trevisan Says:

    Parabéns pelo Relato!!
    Felicidades!

  8. MARCOOO Says:

    …eu diria frustrante, se você não fosse um Grande Exemplo !

    Belo relato, e belo exemplo de luta e perseverança.

    Parabéns Rafael !

1 Trackbacks For This Post

  1. PBP, eu fui! – Rafael Dias Menezes | Do Atlântico ao Pacífico Disse:

    [...] Relato sobre o PBP 2011: http://doatlanticoaopacifico.com/archives/2214 [...]

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