Brevetamos! Depois da série de provas no Brasil, concluímos o Paris-Brest-Paris na França.
Cheguei na sexta-feira, junto com Rafael e Silas, ambos de São Paulo e que também fariam a prova. Como havia conseguido encontrar gente pra me hospedar, através do couchsurfing, foi possível economizar a grana que gastaria em hotel, além de ficar apenas a uns 14 km da largada. Dormi em La Celle-Saint-Cloud e o início da prova era em Saint-Quentin-en-Yvelines. Aliás, por coincidência, a Emilie, que me hospedou trabalhava em Saint-Quentin.
A vistoria foi no sábado e lá encontrei vários brasileiros. Tiramos fotos e depois almocei com alguns deles. Meu bar end foi barrado, assim como o do Rodyer e da Lidiane. Entretanto, um dos brasileiros teve seu bar end aceito, provavelmente por ter um formato um pouco diferente dos nossos.
Marquei de encontrar com o Rodyer no domingo para deixar parte da maltodextrina com ele, mas não o encontrei. Fiquei conversando com alguns brasileiros, além de acompanhar a primeira largada. Dependendo do horário que ocorre a largada, você acaba ficando um bom tempo parado exposto ao sol, o que desgasta um pouco.
Larguei às 18, ainda sem ver o Rodyer. Momentos antes do início, conversei com Miguel, um espanhol em seu sétimo PBP, com quem pedalaria boa parte do caminho até Montagne-au-Perche. Até o primeiro ponto de apoio foram 142 km. Foi muito legal pedalar com tanta gente ao meu lado, mas conforme a prova foi avançando os pelotões foram se dissipando. Antes de Montagne, parei numa vila rapidamente para aproveitar a hospitalidade do povo de lá e encher minhas caramanholas. Havia saído com pouca água, além de não ter almoçado no dia. Em Montagne fiquei parado cerca de uma hora, pois estava me sentindo fraco e precisava me alimentar direto. Encontrei o César Barbosa e sua reclinada.
Entre Montagne e o primeiro controle, em Villaines-la-Juhel, consegui seguir num bom ritmo, mas cheguei muito cansado e quase não conseguia ficar em pé. Meu erro foi não me alimentar direito no início. Após estas duas pernas, coloquei maltodextrina numa das caramanholas e assim resolvi o problema da alimentação para o resto da prova.
Com 309 km, em Fougeres, fiquei feliz em encontrar o Rodyer. Ele largou 20 minutos depois de mim e, como perdi um bom tempo em Montagne e Villaines, acabou me encontrando. A próxima perna até Titeniac foi sensacional. Encontramos uns bons pelotões e fizemos 56 km em duas horas. Desempenho ótimo pra nossas MTBs.
Indo pro Loudeac pegamos alguns trechos com asfalto bem rugoso e algum vento contra, mas nada tão forte. O Rodyer perdeu um pouco de contato, mas me encontrou no PC e seguimos juntos depois do descanso.
Os 44 km seguintes até Saint-Nicolas-du-Pelém foram cheios de subidas e descidas. Acho que até este ponto tinha sido o trecho mais complicado em termos de subidas. De lá até Carhaix-Ploguer foi tranquilo, com apenas mais uns 35 km sem subidas fortes. Tentei encontrar uns italianos com quem formamos pelotão em outro trecho e acabei me afastando um pouco do Rodyer. Em Carhaix nos encontramos novamente e seguimos até Brest. Antes disso, no PC, antes de sair, vi dois brasileiros, o Nílson e o Rogério.
A última perna até a metade da prova foi complicada pela chuva, escuridão e, principalmente, o sono. Ficamos falando besteira o trecho inteiro pra nos mantermos acordados. Foi bem divertido. Depois de vários km’s, um holandês que pegava nosso vácuo chegou pra conversar em português e ficamos sabendo que ele conseguiu entender tudo o que estávamos falando, hehe…
Já em Brest, procurando o PC, erramos o caminho, junto com alguns outros ciclistas. Pegamos uma subidona bem forte à toa. Depois que voltamos e vi a seta correta, me perguntei como conseguimos ser tão idiotas e não ter visto aquilo. E não só nós dois, mas mais alguns ciclistas também, hehe. No PC paramos pra dormir umas duas horas. Fiz as contas e vi que seria possível fechar em 72 horas se mantivéssemos o ritmo, uma vez que fizemos metade do percurso em 33,5 horas.
No início do retorno colei num russo e o Rodyer ficou pra trás, pois perdeu tempo num semáforo. Achei uma das pernas mais legais de toda a viagem. O russo passava todo mundo e fiquei uns 70 km só me aproveitando do vácuo. Dava até vergonha de não puxar ele também pra retribuir, mas simplesmente não conseguia, pela diferença entre as bicicletas. Mas o cara era bem gente boa, conversamos em alguns momentos até que perdi contato numa descida forte. Em Carhaix almocei junto com ele e trocamos umas ideias. O Rodyer chegou mais tarde e acabei partindo sem ele, pois queria manter o plano de parar um pouco menos nos PCs e tentar fechar nas 72 horas.
Até Saint-Nicolas-du-Pelém foi tranquilo. No caminho um alemão, antes de me ultrapassar, perguntou se tinha feito todo o percurso com aquela mesma bicicleta. Não entendi direito, mas falei que sim e ele ficou tão admirado de eu ter feito tantos km naquele intervalo de tempo com uma MTB, que até tirou uma foto minha. Além disso muitas pessoas no caminho me perguntavam se não achava difícil pedalar com aquela bicicleta (pro Rodyer também perguntavam).
Até Loudeac não tive muitos problemas. Fui sentindo mais o cansaço em Quedillac e principalmente em Titeniac, onde acabei cochilando uns 30 min sem querer. De lá até Fougeres segui parte do caminho com um sueco. Entre esses PCs paramos pra tomar café na beira da estrada numa tenda de um senhor que oferecia também alguns crepes. Em troca, pediu que enviássemos um cartão postal pra ele. Muito legal ver isso, principalmente por ser mais de 3:00 da manhã!
Cheguei em Fougeres cansado e resolvi parar uns 30 minutos a mais do que o que havia fazendo. Mas esses 30 minutos viraram uma hora e meia, pois cochilei. Ao acordar não conseguia andar direito por causa da dor muscular. Mas ao subir na bicicleta, foi tranquilo. O vento ajudou em boa parte do trecho até Villaines-la-Juhel e, quando parei para arrumar a correia, o David Dewaele passou por mim.
Os próximos trechos, passando por Montagne, Dreux e chegando em Saint-Quentin foram recheados de pistas bastante rugosas, mas com vento a favor. Uma ou outra subida complicou, mas nada que comprometesse. Encontrei mais algum pessoal legal no caminho e fechei em cerca de 75 horas e meia junto com uns italianos.
O Rodyer chegou um pouco depois, junto com o Della Giustina.
Um pouco depois, quando conversávamos, encontramos o Rafael Dias. Ele teve que desistir pois a bicicleta estragou. Realmente senti muito por ele, pois pedala muito e é um cara bem gente boa. Foi uma pena porque era talvez o que mais merecia fechar a prova, na minha opinião.
No geral achei que foi uma prova difícil, mas menos complicada do que imaginei. Muitos fatores ajudam como as boas condições das estradas (exceto alguns trechos), a presença de vários ciclistas e, principalmente, o envolvimento do povo francês. É fantástico passar nas vilas e ver o pessoal te apoiando, mesmo que seja de madrugada. Gente oferecendo água, café, frutas. Além disso encontrar ciclistas do mundo todo, pedalar com eles, trocar experiências foi sensacional. Realmente o Paris-Brest-Paris é uma prova que vale a pena para todo ciclista de longa distância.
A organização foi excelente durante a prova. Ninguém precisava saber o roteiro, pois era só seguir as setas. Eu mesmo mal estudei o caminho, mal tinha estratégia detalhada e isso nem fez diferença. Importante mesmo foi ter corpo e mente preparados. Quando meu corpo sentiu desgaste no início, não me apavorei e corrigi a alimentação, salvando o resto da prova. A experiência de outras pedaladas foi fundamental pra manter a cabeça no lugar. Não adianta só ter perna e não ter mente preparada. Quando um não ajuda, o outro salva.
Legal também foi ver o reconhecimento do pessoal em relação ao nosso esforço ao ter pedalado num bom ritmo com as MTBs (ou VTTs como eles chamavam). São muito poucos os que pedalam sem bicicletas mais rápidas.
Algumas regras de lá achei estranhas. É possível andar com bicicletas todas paramentadas, que parecem um carro, mas alguns bar end são vetados. Seria por segurança? Por que então não é obrigatório o uso de capacete? O uso de fone de ouvido, apesar de ter rendido alguma polêmica em discussões aqui no Brasil não tinha nenhuma proibição. Me senti até um idiota perguntando isso durante a inspeção, pois para o cara que me respondeu era óbvio que não havia problema em relação a isso. Mas enfim, nada disso tira o brilho da prova.
Outro ponto positivo é o fato de muitos brasileiros terem completado. Mostra como o Brasil evoluiu de 2007 pra cá e com certeza continuará crescendo nas provas de longas distância. Para mim, 2011 é definitivamente um marco na história dos brevets brasileiros. Agora temos muito mais pessoas que completaram o mais famoso dos brevets e há muito mais referência para os que estão começando a pedalar.
Algumas fotos:
agosto 27th, 2011 em 16:48
Aeeeeeeee!
Fala do gordinho batendo palma!!!!
Parabens vocês dois!
agosto 27th, 2011 em 16:51
É, isso foi num dia de noite.
O coitado dum gordinho de noite aplaudindo a gente e o Rodyer falando alto: olha lá só o gordinho! Ahahahaha
agosto 27th, 2011 em 17:59
João! Conta a história direito!
agosto 27th, 2011 em 18:14
Parabéns pro Gordinho que altas horas da noite tava lá batendo palma para nós!! Quero ver no Brasil alguém fazer isto em um brevet – além do medo de ser assaltado pode chegar a ser preso por estar ali altas horas da noite ou então apanhar da mulher!
agosto 28th, 2011 em 11:52
Parabéns João. Vc e o Rodyer detonaram.
Bons tempos aqueles que eu conseguia pedalar no ritmo ou até na frente do João…hauhau
agosto 29th, 2011 em 8:55
Bom dia.
Parabéns.
E lembro ainda que vc não gostava de AUDAX. hehehehehe.
Abraços e Bom Pedal.
agosto 29th, 2011 em 9:30
ahaha, verdade Jean
setembro 4th, 2011 em 21:43
Fala a verdade joão vc gostou do russo não é mesmo rsrsrsr.
Fera meu parabéns… eu posso avaliar o tamanho do desafio que vcs enfrentaram..
Grande abraço ao Rodyer seu companbheiro incansável…
setembro 20th, 2011 em 13:23
SALVE! Rogenio! 2012 tem mais!!!!!
setembro 22nd, 2011 em 17:31
Quem chega agora até pensa que é fácil.
Parabéns João ! Parabéns Rodyer ! Acompanhei vocês desde os treinos à Lapa até o Grande Êxito do PBP 2011, aliás, eu e galera aqui de Ita, Grande Conquista ! Parabéns !